"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Podemos ser frágeis

Caríssimos,

Os artigos dessa semana tem sido centrados, por pura coincidência, em assuntos relacionados a nossa conversão... ao processo de melhoria contínua de nós mesmos. Começamos com o recebimento do feedback, recebimento de críticas, e o processo de assimilação dessas críticas para o nosso crescimento... Seguimos falando do perdão como caminho para nossa libertação. E então ontem falamos sobre aquele garotinho que se preparou para o encontro com o Pai como uma inspiração a nossa preparação. Pois bem... mais uma vez, por pura providência, ouvi hoje uma palestra do Pe. Fábio de Melo que falava sobre o direito de sermos frágeis, reconhecermos nossas fragilidades, nossas limitações, e buscarmos o crescimento.

Pe. Fábio nos fala que não é possível falar de crescimento humano se antes não falarmos de reconhecimento dos nossos limites. Precisamos reconhecer nossos limites, e sobretudo, trabalharmos a superação desses limites. Não podemos nos esconder em nossas limitações... não podemos nunca justificarmos algo usando nossas limitações como "desculpas". O reconhecimento das limitações deve ser voltado a sua superação. O primeiro passo é reconhecer onde a gente precisa melhorar.

Mas isso não é fácil... Nós somos naturalmente incentivados a esquecer nossas fragilidades... ignorá-las. Não é assim? Lembra da reação de um adulto ao ver uma criança chorar... ele sempre vai fazer tudo possível para que a criança pare de chorar fazendo mil caras e bocas, desviando a atenção da criança para outro ponto diferente do que a fez chorar. Ou seja, ignorar sua fragilidade. E não encará-la e vencê-la. Lembro bem quando levo meu filho ao médico, quando ele precisa tomar algum medicamento, uma injeção ou medicamento com uso do inalador. No princípio, quando ele era menorzinho, fazíamos de tudo para realmente desviar sua atenção do inalador, ou da injeção. Pediamos para ele olhar em outra direção de tal sorte a não ver a injeção antes da aplicação, e depois tentávamos mudar sua atenção da dor da picada. E isso não rendeu resultados. Tivemos melhor resultado quando, já um pouco maior, fazíamos com que ele entendesse que aquilo "não era nada"... brincávamos com o inalador para que ele visse que ele não ia se machucar com aquela "fumacinha". Até que ele venceu o medo do inalador, e hoje aos 4 anos, ele não chora mais... as vezes até pede para tomar "aeró", como ele mesmo fala. Com a injeção, ainda há uma certa resistência, mas agora encarada com valentia. Ele já encara a aplicação... fica com os olhos marejados no instante imediatamente antes da aplicação, mas logo em seguida mostro a ele que já passou, e que nem doeu tanto assim. Contamos historinhas de heróis que já precisaram tomar injeção em algum momento de sua infância, e ele se identifica com essas historinhas, e de alguma forma, assimila sua fragilidade, e a encara com bravura (pelo menos essas duas :-)).

Acredito que o processo de crescimento deve ser assim... Não devemos ignorar nossas fragilidades, mas encará-las para sua superação. Ter coragem é descobrir onde está a nossa fragilidade e ali trabalhar com um empenho um pouquinho maior. É não desconsiderar o que temos de bom, mas é também colocar atenção naquilo que ainda temos que melhorar.

O processo de superação de fragilidades é as vezes traumático... como a injeção que o meu Mateus precisa tomar. Vai doer um pouquinho na hora, mas passa. E quando passar, todo o mal que o incomodava (dor, febre, etc) vai embora.

O ensinamento de Jesus é sempre o avesso do avesso, como sempre diz Pe. Fábio. Quer ser santo? Assuma que você é fraco. Muitas vezes, neste processo de se conhecer, a gente sangra. E nós precisamos sangrar. Um dos maiores poetas da música diz isso.
Quando eu soltar a minha voz por favor, entenda
Que palavras por palavras
Eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto, vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando

O sangrar nos faz crescer... Deixa nossas fragilidades a mostra, e assim podemos ter a noção muito clara de que são fragilidades, e precisam ser superadas... vencidas. Isso é conversão. Fragilidades não são defeitos, mas apenas um indicativo do que precisa ser trabalhado em busca do crescimento, do que precisa ser melhorado.

Às vezes, nós colocamos muito mais atenção naquilo que as pessoas estão achando de nós, do que no que nós pensamos de nós mesmos. Busquemos conhecer nossas fragilidades. Vamos descobrir o que hoje em nós está "infeccionado", porque é preciso sangrar, é preciso reconhecer-se frágil. E melhorar!

Forte abraço, e que Deus nos abeçoe!

Marcus Rodrigues
(marcus.rodrigues@gmail.com)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Estou pronto agora!

Quando estarei pronta a entregar a vida e o coração ao Pai?

É comum abrirmos a caixa de e-mail e encontrarmos textos enviados em anexos com mensagens coloridas, palavras bonitas, músicas de fundo e tudo o mais. Particularmente não costumo abrir e-mails assim, talvez por falta de tempo ou medo de baixar um vírus. Mas, providencialmente, acabei lendo um desses textos dias atrás. Eu não imaginava que iria passar pela experiência por que passei, nem que o texto iria causar tanto efeito em minha vida. O autor é desconhecido, mas a mensagem é clara, e assim como Deus falou comigo por meio dela, talvez deseje falar-lhe agora também. Veja que interessante:

O capitão de um navio, que estava de saída, dirigia-se apressado para o porto. Estava muito frio... Diante da vitrine do restaurante, ele viu um menino quase maltrapilho, de braços cruzados e meio trêmulo.

- “O que está fazendo aí, meu pequeno?” - disse-lhe o capitão.
- “Estou só olhando quanta coisa gostosa tem aí para comer...”
- “Tenho bem pouco tempo antes da partida do navio. Se você estivesse arrumadinho, eu o levaria para que comesse algumas dessas coisas saborosas”.

O garoto, faminto e animado pelo fio de esperança de que aquele homem lhe ajudaria, passou a mãozinha sobre os cabelos em desalinho e falou:
- “Estou pronto agora!”

Comovido, o capitão o levou como estava ao restaurante, fazendo com que lhe servissem uma boa refeição. E enquanto o garoto comia, perguntou-lhe:
- “Diga-me uma coisa: onde está sua mãe, meu pequeno?”
- “Ela foi para o céu quando eu tinha apenas quatro anos de idade” - Disse o menino sem entender ainda a vida.
- “E você ficou só com seu pai? Onde está ele agora? Onde ele trabalha?”
- “Nunca mais vi meu pai desde que minha mãe partiu...”
- “Mas, então, quem toma conta de você?”

Com um jeitinho resignado, o menino respondeu:
- “Quando minha mãe estava doente, ela disse que Deus tomaria conta de mim. Ela ainda me ensinou a pedir isso todos os dias a Ele”.

O capitão, cheio de compaixão, acrescentou:
- “Se você estivesse limpo e arrumadinho eu o levaria para o navio e cuidaria de você com muita alegria”.

Novamente, o menino, alisando os cabelos sujos e malcuidados, voltou a repetir a mesma expressão:
- “Capitão, estou pronto agora!”

Vendo-o assim quase suplicante, aquele capitão levou o menino para o navio, onde o apresentou aos marinheiros e imediatos, dizendo:
- “Ele será o meu ajudante e será sempre chamado de ‘Pronto, agora’”.

Ali o garoto recebeu tudo o que carecia e as coisas transcorriam, aparentemente, bem. Até que um dia o garoto amanheceu febril. Foi medicado, mas a febre não cedia. Vendo-o piorar, o capitão, aflito, dirigiu-se ao médico:
- “Procure salvá-lo, doutor. Não posso perdê-lo!”

O médico fez tudo o que pôde, mas em vão.

Na tarde seguinte, o menino, chamando o capitão, lhe falou:
- “Eu o amo tanto! Você foi bom para mim. Gostei de estar aqui, mas ainda será melhor no céu. Eu estou pronto agora, vou me encontrar com o Papai do Céu, que também me ama”.
- “Sim, filho, tenho pensado nisso, e continuarei pensando... Mas quando?”

Segurando as mãos do menino, com lágrimas nos olhos, o capitão ouviu-o dizer pela última vez:
- “Estou pronto agora!”

Tenho pensado na maneira como estou me preparando para me encontrar com o Pai do Céu. Quando estarei pronta a entregar a vida e o coração ao Pai?

Outro dia, enquanto acompanhava uma irmã de Comunidade – num quarto de hospital após esta ter sido submetida a uma cirurgia – pensei: “Senhor, e se ela não voltar? Não superar os efeitos da anestesia... Será que ela está preparada para ir ao seu encontro?”

Pensei no texto que acabei de partilhar com você e refleti: “Mas, e eu, Senhor? Estou preparada?” O tempo foi passando lentamente e, no silêncio da noite, fui pensando na vida e na forma como tenho me preparado para encontrar o Pai do Céu.

Aquele garotinho, a quem o texto se refere, certamente estava preparado... Sua vida de miséria não havia corrompido sua esperança e sua fé.

Desejo que esta lição partilhada reavive em nossos corações a expectativa para encontrarmos o Senhor e nos leve a agir de maneira digna para com todos; assim, estaremos sempre prontos.


Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Missionária da Comunidade Canção Nova
Publicado no Portal da Canção Nova

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Perdão: gota divina para a libertação

O perdão é uma decisão da vontade e não um desejo das emoções

O perdão é o grande segredo, em gotas, para a libertação. O perdão é gota divina porque é o único caminho para a cura interior. Sem o perdão não existe nenhuma possibilidade de cura e restauração. Sem o perdão de tudo o que nos aconteceu no passado, não temos futuro.

Quando alguém é machucado interiormente e não supera ou cura essa ferida pela decisão e pela prática do perdão, acaba se tornando impossibilitado de amar qualquer outra pessoa. A ofensa do passado se transforma em obstáculo para o amor, no futuro. O passado torna-se o grande inimigo do futuro.

O perdão é fruto de uma decisão consciente e persistente. É sempre um processo, que se assemelha a um tratamento homeopático ou a uma terapia continuada, processual, com resultados colhidos a médio ou longo prazo. A cura interior é uma espécie de fisioterapia para a alma. Leva tempo, exige sacrifício persistente, provoca algumas dores, precisa ser acompanhada por alguém competente. Nenhuma fisioterapia ou terapia similar traz efeitos instantâneos. Às vezes, parece até que a fisioterapia está aumentando o problema em vez de resolvê-lo. Pense especialmente na mentira das soluções imediatas. Quando se quer as coisas para ontem, acaba-se aniquilando e abortando o amanhã.

O perdão é um tratamento a longo prazo, é como uma fisioterapia. Leva tempo, exige esforço, dói na hora, parece aumentar a ferida, necessita de persistência, mexe com a área machucada, incomoda e cansa. Mas cada um desses atos é uma gota divina para a libertação de nosso coração aprisionado na mágoa do ressentimento. O primeiro passo para receber essas gotas divinas em nosso coração é reconhecer que temos feridas interiores. O segundo passo é decidir pelo perdão, optar por ele, como única saída, como a única possibilidade de cura e libertação.

O perdão é uma decisão da vontade e não um desejo das emoções. Em conseqüência dessa verdade, não podemos olhar para o perdão com um critério ético de justiça ou injustiça. Do ponto de vista humano, o perdão é sempre injusto, já que se supõe passar por cima da ofensa recebida e revelá-la. Esse processo requer humildade, mansidão, maturidade e autocontrole espiritual. Muitas vezes, em nome da justiça, abre-se espaço para a vingança. Se a justiça é pagar na mesma moeda, o perdão será sempre injusto.

Quando buscamos soluções imediatas para nossos problemas, a vingança tem sabor de vitória e de justiça. A vingança é uma forma de compensação. E não se exige grande esforço para se vingar de alguém; ao passo que, para perdoar, é preciso autodomínio, persistência e, sobretudo, humildade ativa.

O perdão, aparentemente injusto, é o único ato que nos permite reconstruir um relacionamento. Além disso, o perdão nos possibilita amar as outras pessoas e nos relacionar bem com elas. E a vingança nos tolhe porque nos deixa sempre com um pé atrás. A vingança nos aprisiona em nós mesmos.

“A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei” (Rm 13,8).


(Artigo extraído do livro "Gotas de cura interior" de padre Léo)

Pe. Léo

Publicado no Portal da Canção Nova

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

O momento certo para a crítica

A grande verdade é que ninguém gosta de receber críticas, mas, quando a hora é de ver e comentar os defeitos dos outros, dificilmente alguém perde a oportunidade de criticar. De qualquer forma, a convivência com as críticas exige uma grande dose de maturidade e equilíbrio. Elas significam um julgamento de valor ou um sentimento subjetivo de acordo com o ponto de vista de quem as faz.

Do lado de quem recebe críticas, as reações também são sempre subjetivas. Há momentos em que são até bem-vindas - a pessoa está mais aberta e as aproveita para se reformular. Em outros, a crítica provoca vergonha, raiva, irritação e depressão.

Há pessoas que reagem a ela com o sentimento de "deixa pra lá"; outras, porém, se arrasam. Se o criticado é forte, consciente de seu próprio valor, saberá receber a crítica naturalmente, sem grandes sofrimentos. Pode até se contrariar e rebater, mas não se sentirá derrubado nem agredido. Porém, se a pessoa estiver atravessando uma fase difícil de sua vida ou for alguém inseguro e complexado, a crítica é péssima e vai de fato machucar.

Qualquer ser humano tem o direito de emitir suas opiniões diante de um comportamento, de uma atitude ou de uma realização do outro. Entretanto, ninguém pode arrasar algo só porque não gostou ou destruir outro ser humano só pelo prazer de ver a sua ruína. Nesse sentido, é necessário separar bem as duas formas de crítica: a construtiva, feita por amor, com carinho e interesse pelo outro; e a destrutiva, feita com ódio ou rancor, para agredir, derrubar e humilhar.

Há críticas maravilhosas, belíssimas. Elas nem seriam críticas, mas verdades ditas em momentos de encontro, de orientação, de ajuda, de troca. Quem critica bem, critica a sós. Chama o outro e diz: "Olha, assim não tá legal. Você tem capacidade de fazer diferente, de fazer melhor. Que tal tentar de novo; fazer outra vez?" Quem critica positivamente, critica mansamente, pensando em acertar, em elevar o outro.

O problema é que existem sempre os críticos que opinam com o dedo em riste, que só sabem ver o lado ruim do outro e têm sempre uma palavra azeda, venenosa, na ponta da língua. Esses críticos ferrenhos e constantes são, em geral, pessoas negativas, agressivas, complexadas. Elas não criticam por amor, mas com arrogância, maldade, vingança e inveja. E, provavelmente, se ocupam muito da vida alheia, porque a delas é um eterno vazio.

Um exame de consciência sobre o assunto não faz mal a ninguém. Por que não procurar as coisas boas que existem? Por que não ver o lado positivo das pessoas? Não seria mais fácil e gratificante viver dessa forma? Se existem várias formas de criticar, por que não escolher as melhores?

Uma mãe, por exemplo, pode chegar para o filho e dizer: "Você é um inútil, um incompetente, um irresponsável. Não presta para nada". Provavelmente tais palavras não contribuirão para sua mudança de comportamento. Por que diante da mesma situação, a mãe não opta pelo lado da compreensão e do diálogo? Elogiar o filho, exaltar sua inteligência e bondade, e só depois apontar o erro, convidando-o a refletir: "Por que você fez isso? Será que não existe outra forma de agir?" Quem faz uma crítica assim, construtiva, não está pensando em si mesmo, mas no outro, no bem comum e, certamente, essa é a grande diferença.

A aceitação de uma crítica depende de como ela é feita, da pessoa que a faz, do momento e do motivo pelo qual é colocada. Mesmo assim, sempre se pode aprender alguma coisa com ela. A observação do outro, mesmo que maldoso, pode servir de alerta sobre nossos defeitos ou, no mínimo, como um ensinamento sobre a inveja e a maldade humanas.

Quem tem segurança e maturidade sempre analisará a crítica recebida e considerará se há nela algum dado importante para o seu autoconhecimento ou para o conhecimento das pessoas que o cercam. O duro é que, na maioria das vezes, as críticas são feitas com a intenção de arrasar e, quando elas nos pegam num mau momento, fica difícil superar.

O jeito, então, é esfriar a cabeça e deixar para pensar nelas depois que toda exaltação foi superada. Vale lembrar que saber aceitar ou fazer crítica é uma arte que precisa ser cultivada por todos nós.

MARIA HELENA BRITO IZZO é psicóloga e terapeuta familiar.
Fonte: Revista Família Cristã.
Publicado no Portal A Catequese Católica

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Não desista da sua família!

“Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra, para que vos conceda, segundo seu glorioso tesouro, que sejais poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento do vosso homem interior.” (Efésios 3, 14-16).

A família tem sua origem em Deus criador de todas as coisas. Portanto, sua origem é Divina. Não foi a Igreja , nem o homem e muito menos a sociedade quem inventou a família.

Sendo a família instituição Divina – “...ao qual deve a sua existência toda família...” – ela precisa se esforçar continuamente em viver sua plena identidade, ou seja, ser aquilo que Deus sonhou para ela; por isso, diz João Paulo II: “Família, torna-te aquilo que és.” (Familiaris Consortio, 17). Isto significa: “Família, viva a vontade de Deus. Viva o projeto de Deus a seu respeito. Deixe Deus ser a vida e o centro de sua existência. Não negue sua identidade, sua origem divina. Deixe Deus ser Deus em teu seio.

Muitos são os desafios que desagregam a família e que a fazem perder o rumo, ou a identidade. Existem intenções malignas por trás de muitas ações na sociedade e principalmente dos meios de comunicação querendo desfigurar, descaracterizar a família. Até mesmo com idéias de novos modelos de família, o que contraria o projeto de Deus, como se Deus fosse incapaz de criar um modelo perfeito, ficam inventando outros modelos como se fossem soluções para nossos problemas, mas são apenas para encobrir a vida de pecado, justificando-a como uma verdade e querendo enquadrar Deus nestes padrões.

Ao contrário, nós é que temos de enquadrar nossas famílias ao projeto de Deus. Somente assim seremos famílias felizes. Só é feliz a família que vive procurando fazer a vontade de Deus. A verdadeira identidade da família está em Deus, aquilo que ela é e aquilo que ela deve ser – “Família, torna-te aquilo que és.” – e para alcançar esta identidade cada família precisa viver uma espiritualidade forte, buscando na fonte, que é o próprio Senhor, a força necessária para lutar contra os males que a atingem. Por isso, é que neste sentido o Senhor derrama sobre as famílias o seu Espírito, que é, no dizer de João Paulo II, a força interior que capacita cada família para viver o amor (cf. Carta às Família, 4). Como vimos acima S. Paulo nos dizer:
“...que sejais poderosamente robustecidos pelo seu Espírito em vista do crescimento do vosso homem interior.”
E justamente pela falta dessa “força interior” é que muitas famílias desistem de lutar. Entregam-se, rendem-se ao inimigo que de diversas formas vai fazendo “minar” as forças dessas famílias.

Por isso, digo hoje a você que passa por momentos difíceis, até mesmo, situações dificílimas e que estão te fazendo desistir de continuar lutando pela sua família: NÃO DESISTA DE SUA FAMÍLIA! Talvez você esteja desistindo e não esteja agüentando mais por não ter armas mais fortes e nem mesmo forças para enfrentar as potentes armas e armadilhas do maligno. Mas o próprio Senhor te dá a força maior, o seu Espírito para que sejais poderosamente robustecidos.

Peço hoje ao Senhor, que derrame sobre você e sua família o Espírito Santo. Que sua mente e seu coração fiquem inundados de sua presença e desfaça qualquer sentimento ou intenção de desistência, de derrota, de pensamentos negativos, de toda contaminação maligna. Que o Senhor cure toda enfermidade de sua família, a falta de diálogo e perdão, os vícios, a violência, o adultério e providencie tudo que for necessário. Que você e sua família sejam abundantemente abençoados e com a luz do Espírito Santo encontrem o caminho da verdadeira identidade no amor de Deus.

Por isso, mais uma vez eu te digo: NÃO DESISTA DE SUA FAMÍLIA! PORQUE DEUS NÃO DESISTIU DELA!

Que a Sagrada Família os abençoe!

Italo J. Passanezi Fasanella
Fundador e Moderador Geral
Comunidade Católica Sagrada Família – S. Paulo
www.sagradafamilia.org.br - o site da família.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Notícias do Céu

Hoje, pensei em tantos que também precisam receber notícias do Céu


Recordo-me vivamente daquela manhã chuvosa quando entrei no estúdio da Rádio cantando um trecho da música "Vitória de Deus" de autoria do Pe. Fábio de Melo. Não imaginei que o gesto tão simples iria causar grande efeito na vida do colega, que parecia nem me ouvir, enquanto concentrado trabalhava naquele espaço. É que já há alguns dias eu estava ruminando a letra dessa canção e meu coração estava povoado de suas palavras. Então, sem perceber, dei vida ao ditado popular que diz: “A boca fala do que o coração está cheio”, e cantei com naturalidade:

“Eis que trago notícias do céu
Deus resolveu te fazer vencedor
Ergue os olhos, destranca tua voz
Vem receber novas vestes de luz
E declara comigo a vitória de Deus...”

Admirado, o colega parou o que estava fazendo e pediu que repetisse o que havia cantado, ouviu–me atentamente e depois testemunhou: "Foi isso que aconteceu comigo, Deus resolveu me fazer vencedor!" Ainda com outras palavras, partilhou naquele momento, fragmentos de sua história, na qual, com facilidade, contemplamos a vitória de Deus e O glorificamos juntos.

Hoje, quando pensei em escrever mais um texto, lembrei-me daquela experiência e pensei em tantos que também precisam receber notícias do Céu. Talvez você seja um desses casos... Então, pego emprestadas as palavras do Pe. Fábio para dizer que há muito tempo Deus resolveu fazê-lo vencedor e hoje lhe envia este recado:

“Deixa que a aventura de ser gente te evolva
Prepara o que serás no que és
Não prenda os teus olhos nos olhares que te acusam
Esquece a voz que te condenou
Nunca te aprisiones nos teus medos e receios
Nem sê refém de quem não sabe amar
Não, não te condenes a morrer com teus defeitos
Nem use a expressão não vou mudar
Pois a cada instante é possível crescer
Retirando excessos do ser
Aprimora o teu jeito de ver e de ouvir
E do amor tão perto estarás
Eis que trago notícias do céu
Deus resolveu te fazer vencedor...” ( Pe. Fábio de Melo – CD "Filho do Céu").

Talvez seus dias estejam preenchidos pelas inúmeras atividades e lhe falte tempo para receber notícias do Céu. Mas Deus que sempre vai além... passando por mim lhe envia recados. Se quiser, faça hoje mesmo a experiência de contemplar as vitórias de Deus em sua vida e tome posse da sua condição de vencedor.

O amor que levou Jesus à morte e à ressurreição para nos salvar é sempre a garantia de nossa grande vitória sobre o mal. Eis a melhor notícia do momento, sejamos propagadores dela!

Foto Dijanira Silva
dijanira@geracaophn.com
Missionária da Comunidade Canção Nova, em Fátima, Portugal Trabalha na Rádio CN FM 103.7

Artigo publicado originalmente no portal da Canção Nova

terça-feira, 20 de novembro de 2007

"... sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." (Rm 8, 28)


"... sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." (Rm 8, 28)

Verdade, promessa, experiência, sugestão?

Paulo falou aos cristãos daquela época, e fala pra nós hoje. É promessa de Deus, e verdade de fé. É experiência de quem viveu essa realidade e sugestão para nós que ainda caminhamos rumo à glória futura, a Jerusalém Celeste, à casa do Pai.

Podemos questionar, como há um bem? Em meio a tanta dor, tanto sofrimento, problemas nas famílias, na comunidade, na Igreja? Vamos voltar ao contexto em que este texto foi escrito, assim poderemos entender o que Paulo nos quis dizer.

Voltando um pouco na carta veremos
"Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada." (Rm 8,18).
Era justamente neste contexto que Paulo afirma com tanta convicção e propriedade que tudo concorre para o bem dos que amam a Deus. Paulo não fala do "bem" como conforto, alegria, facilidade, fartura. Ele como um sofredor de açoites, prisões, perseguições não seria alheio a esses sofrimentos para dizer que isso seria um bem.

O bem que nos fala é superior aos bens desse mundo. O bem é a conformação à Jesus que as dificuldades, tribulações nos dão "os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" (Cf Rm 8,29). Se passamos dificuldades neste mundo é para que nos conformemos a Jesus.

Se está difícil de entender, vou ser mais prático. Sabe aquele irmãozinho na Igreja que tem a enorme capacidade de lhe tirar a paciência. Pois você que foi "chamado segundo o propósito de Deus, e predestinado para ser conforme a imagem de Jesus", saiba que este irmão deve lhe formar na paciência e no amor.

Se hoje sofremos tribulações, é porque precisamos ainda ser melhores, pacientes, esperançosos, misericordiosos. E se você me diz, como é que uma criança com fome na rua concorre para o bem dos que amam a Deus? Ela não ama a Deus? Não foi chamada? Eu lhe digo foi sim. Ela é vítima daqueles que não aceitam o chamado à conformidade com Jesus. E eu e você que fomos chamados, devemos agir, amar e acolher esta criança. A fome desta criança irá concorrer para que eu me conforme a Jesus no amor.
"Qualquer que em meu nome receber uma destas crianças, a mim me recebe" (Mc 9,37).

Então, devemos aprender que as dificuldades com os pais, com os amigos, na comunidade, na Igreja, no trabalho, na faculdade, na escola, com a família, não devem ser motivos de quedas para nós. Precisamos gravar em nosso coração que tudo o que acontecer conosco é para o nosso "bem". Não é em vão, tem um objetivo. Nossos sofrimentos atuais nos conformam a Jesus. Conformar: "do Lat. Conformare, formar, dispor, configurar; conciliar, harmonizar, amoldar-se; identificar-se".

Tenho me deixado "conformar" a Jesus, no meu estado de vida? Na minha vocação específica?

Isto justifica as palavras de quem é provado justamente no seu carisma, na sua vocação! Porque foi chamado para "nisto" ser conformado a Jesus. É difícil, mas, que nosso SIM seja SIM, e nosso NÃO seja NÃO!

No tempo do advento, que breve entraremos na santa liturgia da Igreja, precisamos perceber quais "coisas" têm concorrido para o meu "bem", segundo o "propósito" de Deus pra mim.

Nos consagremos à Virgem das Graças, que formados por Ela, sejamos cada vez mais semelhantes à Jesus! Essa é nossa meta!

Edgar Nogueira Lima
(edgarnlima@gmail.com)
Comunidade Rahamim
Novembro/07

domingo, 18 de novembro de 2007

O dom da benção

Caríssimos,


hoje ouvindo algumas palestras no portal da Canção Nova, ouvi uma linda palestra do Padre Léo sobre o poder da benção, e aí bateu uma saudade dos tempos de férias na casa da Vovó em São Gonçalo... Foi um tempo muito feliz, cheio de travessuras e brincadeiras, mas também um tempo de muito crescimento e aprendizado, embora à época eu nem mesmo percebesse esse crescimento. Mas o fato é que cresci muito. E aprendi um bocado. Um desses aprendizados estava num gesto muito simples... a benção do Vovô e Vovó a toda a família. Sempre fazíamos isso em casa, e lá em São Gonçalo vi onde a Mamãe aprendera aquele belíssimo ritual de benção e consagração de nossa família. Lá em casa sempre recebíamos as bênçãos da Mamãe e Papai quando íamos dormir, cada um em seu quarto. Mas em São Gonçalo isso acontecia de uma forma muito especial.

Após a novela das 8, Vovô apagava as luzes do alpendre... esse era o sinal para entrarmos. Portas fechadas, todos íamos dormir. Dormíamos na sala (eu e meus primos), e quando o Vovô apagava a luz do seu quarto, começava aquela cantoria de bênçãos. Era um “bença Vô, bença Vó!” que vinha de todos os cantos da casa e que transpassava por sobre as paredes, e enchia todos com uma sensação muito gostosa, e que na época não sabíamos bem o que era. Mas essa sensação gostosa era a benção de Deus caindo sobre nós através do “Deus te abençoe e faça feliz!” dito pela Vovó e Vovô. Naquele momento, éramos consagrados e abençoados.

Meus avós foram abençoados por seus pais, e com as graças e bênçãos recebidas abençoaram seus filhos, meus pais. Meus pais me abençoavam (e continuam abençoando), e hoje eu abençôo meu filho com a mesma felicidade.

Pena que hoje não vemos muito isso. Essa cultura bela e santa de abençoar seus filhos está se perdendo com o tempo... está sendo trocada por outras “tradições modernas” (a TV, por exemplo). Mas por que isso está acontecendo? Por que a dádiva de abençoar seus filhos está se perdendo... está sendo esquecida?

Caríssimos, não deixemos de abençoar nossos filhos. E não façamos isso por tradição ou preservação de cultura ou raízes, e sim por absoluta convicção de que esse ato santo de fato lança sobre nossos filhos as bênçãos de Deus. Estejamos absolutamente certos que as bênçãos de Deus estão em nossas mãos. Abençoemos nossos filhos a cada instante... ao acordar, ao deixá-los na escola, aos revê-los da volta do trabalho, ao colocá-los para dormir, e aos despertar de um novo dia para um novo ciclo virtuoso e santo de bênçãos.

Deus nos abençoe!


Para ouvir a pregação do Pe. Léo na íntegra, faça uma pausa na FM Círculo Verde (lá em baixo, no canto inferior esquerdo do nosso blog), e clique AQUI.

sábado, 17 de novembro de 2007

A missa dominical

A fidelidade às orientações e exigências da Igreja são fundamentais para ser membro vivo da obra de Cristo

O cumprimento do dever de participar da Missa cada domingo e nos dias santos de guarda é um dos sinais de uma vida religiosa autêntica. Diz o "Catecismo da Igreja Católica" (nº 2.181): "Aqueles que deliberadamente faltam a esta obrigação, cometem pecado grave". A fidelidade às orientações e exigências da Igreja são fundamentais para ser membro vivo da obra de Cristo. A participação semanal ao Santo Sacrifício é importante fator, que nos alimenta em nossa fraqueza com a fortaleza que nasce da Eucaristia.

Esse amparo espiritual faz-se mais significativo em nossos dias, pois uma mentalidade errônea sobre a liberdade favorece a escolha de elementos eclesiais a critério dos indivíduos e não segundo o ensino de Cristo. E, assim, organizam uma religião que é católica apenas de nome. Torna-se mais grave quando o cristianismo é manipulado por opções ideológicas. Um referencial é a palavra do Papa João Paulo II, em sua primeira visita ao Brasil. A homilia em Aparecida, em 5 de julho de 1980, nos ajuda a discernir o verdadeiro do falso nessa matéria: "Qual é a missão da Igreja, se não a de fazer nascer o Cristo no coração dos fiéis? (...) E este anúncio de Cristo Redentor, de sua mensagem de salvação, não pode ser reduzido a um mero projeto humano de bem-estar e felicidade temporal. Tem, certamente, incidências na história humana, coletiva e individual, mas é fundamentalmente anúncio da libertação do pecado".

Prejudicando seriamente o plano de Deus, há os que reduzem a Igreja à tentativa da construção de uma sociedade sem injustiças e outros que se limitam a uma espiritualidade sem um profundo vínculo com a superação dos males, inclusive sociais frutos do pecado. A orientação correta é a que decorre dos ensinamentos de Jesus autenticamente transmitidos pela Hierarquia.

A valorização da assistência à Missa, dentro de um contexto comunitário e especialmente em dias de preceito, sofre com essas tendências. Tal é a importância do assunto que o Papa foi levado a publicar precioso documento, a Carta Apostólica "Dies Domini", com data de 31 de maio de 1998, dirigida ao Episcopado, ao Clero e aos fiéis sobre a santificação do domingo.

Os primeiros cristãos necessitavam de boa dose de heroísmo para viver a sua fé, em virtude do ritmo dos dias do calendário. O grego e o romano não propiciavam aos fiéis o tempo livre do domingo e, em conseqüência, estes celebravam os Ofícios divinos na madrugada. Os costumes evoluíram à luz do cristianismo nascente. No século III, um autor escreveu o que já então se constatava em toda a região: a santificação do domingo já era observada. No entanto, ainda no século IV, um grupo de cristãos foi levado a um tribunal pelo delito de participar de reuniões ilícitas - no caso, a Celebração Eucarística. A resposta foi clara e peremptória: "Temos celebrado a assembléia dominical por que não nos é permitido omiti-la". E morreram mártires de sua Fé.

O costume, (mais tarde, preceito) da assistência à Missa aos domingos e dias santificados vem, pois, das origens do cristianismo. Hoje, essa presença que caracteriza o católico deve ser objeto de um exame de consciência.

No decorrer desses dois milênios persistiu o preceito do primeiro dia da semana, em modalidades variadas. Constitui parte integrante da própria existência do fiel. Há causas que o escusam. Entre elas, a ausência do Ministro ordenado. Nesses casos, o fiel é exortado vivamente – portanto, conselho e não estrito dever - a participar da Liturgia da Palavra. O Código de Direito Canônico (can 1.248) recomenda, de modo claro, a dedicação de um tempo a atos piedosos que santifiquem o Dia do Senhor. No entanto, a assistência à Missa, mesmo fora da paróquia, é obrigatória, desde que não haja grave incômodo para dela não participar.

A obrigação perdura. O Código do Direito Canônico também afirma: "É grave encargo a assistência à Missa aos domingos e festas de preceito. Somente uma causa suficiente a dispensa e, mesmo assim, recomenda-se substituí-la por práticas religiosas”. Trata-se de "recomendação" (cânones 1.247 e 1.248).

Infelizmente, no período pós-conciliar surgiu a falsa informação de ter sido abolido o dever de assistência à Missa aos domingos e dias santos, como também a abstenção dos trabalhos servis no Dia do Senhor.

O "Catecismo da Igreja Católica" (nº 2.181) usa como exemplos dos motivos sérios, relevantes, que dispensem da obrigatoriedade da observância do Dia do Senhor, inclusive da Santa Missa: "Doença, cuidado com bebês", a que se poderiam acrescentar outros assemelhados, como "distância do local da Santa Missa" que, acarretasse incômodo de vulto a quem a percorresse. E, como se trata de uma participação comunitária, não cumpre esse dever quem assiste a transmissão pela televisão ou rádio, mesmo que seja de grande proveito espiritual. De modo particular, beneficiam-se os enfermos e encarcerados, impedidos de chegar a uma igreja. O mesmo se diga dos que residem distantes dos templos.

A importância da fidelidade ao preceito grave da assistência à Santa Missa se origina do valor infinito do Santo Sacrifício, explicitado pelas palavras do Santo Padre em "Dies Domini".

Santificar o Dia do Senhor – assistência à Missa dominical e repouso semanal – favorecendo inclusive a vida familiar – é contribuir para a paz e a convivência pacífica na comunidade. Aproxima-nos do Senhor e abre novas perspectivas a uma autêntica vida cristã.

Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro

Publicado originalmente no Portal da Canção Nova

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Descubra você mesmo quando rezar

Cada pessoa passa por momentos particulares na vida, que segue o seu ritimo. É preciso descobrir também o próprio ritmo de oração, fazer encontro com Deus um encontro personalizado. Deus não é uma idéia nem uma energia impessoal, como o calor do sol ou a brisa do vento. Ele é uma pessoa viva e verdadeira com quem podemos e devemos dialogar. É necessário tratar Deus como o melhor amigo que temos e recebe-lo dentro de nós numa atitude de acolhida, preparar para Ele um espaço na nossa vida. Os hóspedes sempre devem ser recebidos bem. Devemos acolher a Deus e ter consciência de que Ele tem um único desejo: nos amar e fazer a nossa vontade.

Santa Terezinha é um modelo de oração. Ela diz: “nunca passei mais de três minutos sem pensar em Deus!”

Gostaria de poder apresentar algumas indicações de quando você rezar, deixando a liberdade de ampliá-las como mais lhe agradar. Todo caminho não pode ser estático ele deve ser dinâmico, aberto para introduzir outras motivações e tirar algumas que, em determinado momento, já não nos dizem mais nada. Nós mudamos muito. Não seria conveniente usar no inverno roupa de verão e nem no verão, roupa de frio. Nossa oração deve corresponder às exigências que encontramos no caminho da vida.

Antes de iniciar a sua oração, faça silêncio dentro e fora de você para perceber o impulso da sua vida interior. Do que você necessita hoje? Como quer viver o tempo que o Senhor lhe dá.

O seu encontro com Deus não pode ser um instante fugaz e rápido, mas constante e permanente. Da sua situação humana, afetiva, psicológica, social, vai depender também o seu modo de rezar, de pedir, de dialogar com Deus. Há pessoas que rezam sempre a mesma oração pedindo chuva, mesmo quando há enchente que atrapalha tudo e provoca desastres. E se justificam na maneira de rezar: “em qualquer lugar do mundo devem existir lugares que precisa de chuva!” A minha oração tem um caráter universal, mas Jesus nos ensinou em várias circunstancias a historicizar a nossa oração, faze-la nascer da vida concreta, do dia-a-dia.

Já foi dito várias vezes que a oração não pode ser restrita a momentos particulares. É a vida que deve tornar-se oração, devemos colocar-nos continuamente na presença de Deus que orienta e sustenta o nosso caminho. È importante ter sempre em nossa frente a Bíblia e acompanhar, por meio de sua leitura meditativa, a história do povo que vai a caminho de terra prometida percorrendo noites, desertos, até chegar a conclusão de que a felicidade que Deus oferece não é a de situações baratas. Exige de nós constantes renuncia, “um saber dizer não” a tudo o que nos afasta de Deus e assumir a verdade como único caminho.

O ser humano, na sua caminhada sobre a terra, se depara com aquelas situações obscuras que tornam impossível continuar o caminho sozinho, é preciso Deus. Sem Deus não há uma visão completa e harmoniosa da existência humana. Muitas vezes, nos encontramos em situações em que nos sentimos tão pobres que necessitamos de Deus como a terra precisa de água para viver, as plantas, do sol, e a vida, de amor.

Na verdade, só Deus é força. É preciso nos convencer de que só Deus –Pai, Filho e Espírito Santo é a fonte de nossa felicidade e sé Ele pode mudar, como diz o salminsta, a “sorte de nossa vida”.

O caminho depende de nossa fidelidade e amor. Deus sozinho não age, precisa de nossa cooperação, do nosso sim.

Artigo extraido do livro "Quando rezar?"

Frei Patricio Sciadini

Artigo publicado no Portal Canção Nova

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pensamentos e oração

Conseguimos deixar de lado os nossos negócios e pensar em Deus?

Apesar de existirem máquinas que, dizem, detectam a verdade ou a mentira das pessoas, ainda temos uma área reservada para nós mesmos, onde ninguém pode entrar. São os nossos pensamentos. Os outros vão saber somente o que nós deixamos escapar, ou o que decidimos revelar. O resto fica conosco, guardado ou esquecido; curtido, às vezes; outras teimando em voltar contra a nossa vontade. É o patrimônio das emoções, das lembranças e das saudades. Infelizmente, também, das feridas, das humilhações e das tristezas que carregamos. Esse, talvez, seja o nosso tesouro verdadeiramente pessoal, onde estamos a sós com a nossa consciência e que, inclusive, não vamos poder deixar para ninguém. É nosso e basta. Nós e Deus, claro, ao menos, se acreditamos e confiamos nele. Tudo o que lembrei vale também para a nossa oração.

Nos poucos momentos de silêncio das nossas liturgias, surpreendo-me perguntando-me o que as pessoas estão pensando e rezando. Todos nós ouvimos a mesma Palavra de Deus, a mesma explicação, cantamos os mesmos cantos, recebemos a mesma Eucaristia, mas cada um carrega no seu coração a própria história, a própria personalidade e a própria fé.

Imagino a oração simples e confiante das crianças, repetindo palavras ouvidas e correndo com o pensamento, já, lá fora, nas brincadeiras com os colegas, nos pequenos objetos guardados com ciúme. Imagino também a oração dos idosos, carregadas de lembranças, de rostos e de momentos vividos. Alguns devem agradecer pelo dom da vida, outros devem pedir mais uns dias, outros se preparando ao grande encontro. Todos, com certeza, rezam por suas famílias e por aqueles que os acompanham. Que bom quando a pessoa idosa se sente amada e até mimada!

Deve ter, pois, a oração dos pais, preocupados com a família, com os filhos,, com o trabalho, com as contas para pagar. Animados com o desejo de sair da igreja e ser um pouco mais sorridentes e amigos dos que encontrarem nos caminhos da vida. No meio de tantas confusões, um pouco de serenidade, de esperança e de alegria são bens preciosos a serem protegidos e sempre renovados a cada celebração da vida e da fé.

Fico também pensando como deve ser a oração dos empresários, dos executivos, dos políticos, dos comerciantes. Será que sabem deixar um pouco de lado os negócios e pensar em Deus? Come se sentem, perante o Altíssimo, na posição social tão importante e vertiginosa que ocupam?

Não posso esquecer a oração dos nossos irmãos com deficiências; como deve ser a oração de quem não pode andar, de quem não consegue falar e de quem mal sobrevive, carente de pensamentos e sonhos? Talvez seja a melhor; a única que Deus já conhece e acolhe.

Assim Jesus, um dia, falou da oração de dois homens, um fariseu e um cobrador de impostos. O primeiro foi ao templo para se orgulhar da sua honestidade, da sua integridade e obediência mais rigorosa às leis. Infelizmente estava tão cheio de si que acabou desprezando o cobrador de impostos, que estava lá no fundo do templo, de cabeça baixa. Essa não foi oração, coisa nenhuma. Porque aquele homem não precisava de Deus, de tão bom e perfeito que ele se achava. Ao Pai, também, não interessava, e continua não interessando, uma oração assim. Para os filhos, também, é inútil, porque não muda em nada a vida deles: eles são os melhores! Nada mais tem a aprender.

Humilde foi, ao contrário, a oração do cobrador de impostos. Reconhecia-se pecador e não merecer nem levantar os olhos para o alto. Pediu perdão e ajuda para mudar. Entendeu que devia mudar. Desejar ser melhores já é um começo. Abre-se um caminho.

Vamos todos aproveitar para melhorar a nossa oração. No silêncio do nosso coração, só Deus sabe o que estamos pedindo, porque estamos agradecendo ou louvando. Somente Ele, e nós, conhecemos as nossas angústias. O IV Prefácio Comum reza assim: “Eles (os nossos louvores) nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós, por Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso ”Enfim, pensamentos e orações, apesar de tão secretos, servem para a comunhão entre nós e com Deus. E a solidão é menos pesada.

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá (AP)

Publicado originalmente no Portal da Canção Nova

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Tudo pode ser mudado pela força da oração

Se tudo pode ser mudado pela força da oração, porque nós não mudamos o mundo? Porque não rezamos! Nos acomodamos dizendo que tudo “é da vontade de Deus” e não tomamos nossa responsabilidade. Quantos de nós vemos nossas famílias se diluírem nas brigas e adultério e somos incapazes de fazer algo para que isso não aconteça. Vemos uma união sacramental “ruir” e dizemos que infelizmente o mundo está desse jeito.

Olhe para sua vida, sua família está perfeitamente na graça de Deus? Seu casamento está bem? Seus pais estão unidos no amor? Seu trabalho está sob controle? A comunidade está sem nenhum problema? Talvez não?! E qual sua atitude diante disso? Tapar o sol com a peneira e achar que isso é normal, que acontece com todo mundo? NÃO! Eu lhe digo: MEXA-SE, REZE!

Maria, consegue tudo o que deseja porque além de mãe, ela sabe como conseguir as coisas. Veja qual era o segredo de Maria: “Trabalhe e reze. Fique em silêncio, reze, ame e reze. Escute e reze. Não discuta, não queira ter razão: cale-se. Não julgue, não condene: ame. Não olhe, não queira saber: abandone-se. Não arrazoe, não entre na profundidade dos problemas: creia. Não se agite, reze. Não se inquiete, não se preocupe: tenha fé.” (Luzia Santiago, Revista Canção Nova. Maio de 2006)

Viu, além de tudo, ela rezava! Em todos os momentos a oração estava presente na vida de Maria. Por isso a palavra de Maria para Deus é um ordem. E Maria não era alienada em só rezar e pronto, ela também agia, como nas Bodas de Caná, ela foi lá, falou com Jesus e a graça aconteceu.

Jesus nos diz: “se dois de vós se unirem sobre a terra para pedir, seja o que for, consegui-lo-ão de meu Pai que está nos céus.” (Cf. Mt 18,19)

À luz dessa palavra eu nos exorto: vamos rezar por causas urgentes! Nos unamos em oração. Você, tome posse da sua família em oração, ela vai ser restaurada, basta que alguém assuma essa responsabilidade e brigue por ela, em oração.

Se olharmos o Antigo Testamento, poderemos comprovar que Deus salvou nações inteiras escolhendo “um” representante seu: Moisés, Noé, Gedeão, Davi, entre outros... Deus escolhe um, para salvar vários. Talvez hoje, você seja o escolhido para restaurar sua família ou transformar sua comunidade. Talvez milhares de almas estejam só esperando a sua atitude e oração para que sejam salvas!

Motivos para rezarmos temos muitos, as almas no purgatório, a conversão dos pecadores, a aquisição da nossa sede, nossa vocação, pela paz no mundo, pela Santa Igreja, por nossos ministérios, pela evangelização, pela restauração das famílias, pela saúde dos enfermos, enfim... você tem suas intenções, e as intenções da comunidade!

Que durante esse mês nós possamos mudar o ritmo dos acontecimentos através das nossas orações! Quero no fim do mês, receber vários testemunhos das obras que Deus operou em nossas casas e em nossa Comunidade, tudo porque assumimos nosso papel de orantes! Ministério de intercessão: “O poder é de vocês!”

Pai de amor e misericórdia, eu te peço, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, infundí em nossos corações o Teu Espírito, para que assumamos nossa responsabilidade de orar. Dá-nos o Dom da Piedade, para que te busquemos sempre na intimidade da oração.


Edgar Nogueira Lima

(edgarnlima@gmail.com)
Comunidade Rahamim

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Mais um passo

Caríssimos,

Ontem concluímos mais um passo no ciclo de vida do Círculo Verde. Ontem, na reunião de Círculo realizada na casa do casal Moreira e Fabrícia (e do pequeno Gabirel) concluímos a indicação do casal coordenador de círculo e casal social. Foram indicados os casais Heitor e Madiana para a coordenação do Círculo, e Marcus a Andréa para casal social, unindo-se ao casal Alex a Mônica como casal finanças, indicados em outra reunião.

Agradeçamos ao casal Sales e Ivana, que muito sabiamente nos conduziram durante esse primeiro passo de caminhada, "formação" e renovação de nossa fé. Mas eles não nos deixarão... Estarão sempre conosco em nossas reuniões, mas agora, como disse Ivana brincando, sem o "poder" da coordenação :-)

A coordenação agora está com o Casal Heitor e Madiana. Madiana, em seu oração de "posse" :-) demonstrou sabedoria, humildade e serenidade, só confirmando a intercessão do Espírito Santo em nossa escolha. Deus abençoe nosso casal coordenador!

Agradeçamos também aos casais Moreira e Fabrícia, e Rubens e Lorena, pelo excelente desempenho dos papeis a frente das finanças e social do Círculo Verde.

As fotos da reunião de ontem já estão no álbum do Círculo Verde.

Deus nos abençoe a todos!

Marcus & Andréa & Mateus

Testemunhas de milagres

Caríssimos,

Esse final de semana assisti uma palestra do Padre Cleidimar que falava sobre a experiência com Jesus. Na palestra, Padre Cleidimar nos convida a sermos testemunho do milagre da fé. A qualidade de vida que temos pode ser testemunho de vida e restauração para muita gente. No entanto, Padre Cleidimar nos questiona se temos passado nossa experiência com Jesus para os que estão próximos a nós. Nossa experiência com Cristo não pode ficar apenas conosco... precisamos passar aos outros. E isso não pode limitar-se a nossa família e amigos próximos. Como evangelizadores, precisamos levar essa experiência aos que se encontram em trevas... aos que precisam de uma mão... aos que precisam de uma luz. Sejamos então testemunhas desse milagre da fé!



OUÇA NA ÍNTEGRA ESSA PREGAÇÃO


Para ouvir esta pregação, faça uma pausa na música ambiente, se ela ainda estiver tocando (controle disponível logo abaixo do arquivo de postagens do blog - lado esquerdo).

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Para minha Mãezinha...

"Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma substitui outra. Cada um que passa em nossa vida, passa sozinho, mas não vai só, nem nos deixa sós; leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam muito, mas há os que não levam nada; há os que deixam muito, mas há os que não deixam nada. Esta é a maior responsabilidade de nossa vida e prova evidente de que duas almas não se encontram por acaso."
Antoine de Saint-Exupéry


O Sentido da vida!

A pé ou de automóvel, nosso pessoal faz o percurso do caminho das saudades. De fato, saudades são os primeiros sentimentos que tomam conta das pessoas no dia de finados. Ah! Sim, também eu tive ontem e tenho sempre muitas saudades de minha querida mãe, do meu pai e dos três irmãos falecidos. E dos padres? Ah! Sim, fui tomado por fortes recordações de Mons. D’Ângelo, Mons. Adolfo e Pe. Cristóvão, que estão sepultados em nosso cemitério.

As emoções passam, mas as lições ficam. O que nos ensina o dia de finados? Penso que a maior lição é sobre o valor da vida. Pois da nossa vida depende a nossa morte: TALIS VITA, FINIS ITA, diziam os antigos romanos. Se vivermos bem, conforme os ensinamentos do evangelho, com certeza, morreremos bem.

Viver bem! Eis a questão.

As mais antigas correntes filosóficas, latinas e gregas, ensinaram muito sobre o sentido da vida, desde os erros e aberrações das correntes epicuristas (escola fundada pelo filósofo Epicuro), que colocavam o sentido da vida na sensação do prazer físico e sensível até os filósofos de tendência espiritualistas que mediam o sentido da vida pelo amor à ciência, sobretudo à filosofia.

Os Romanos valorizavam a vida pela oportunidade das saborosas comidas e as variadas festas e diversões: pão e circo.

Para se dar verdadeiro sentido à nossa via precisamos conhecer a sua origem divina e ter absoluta certeza de seu destino eterno. Com a morte, esta vida se transforma, mas não se apaga, pois, destruído este nosso frágil corpo, nos é dada, no céu, uma eterna mansão, como afirma o prefácio da missa dos mortos.

Foi a vinda de Cristo que mudou completamente o rumo de nossas vidas.

Então, a vida venceu a morte. Uma nova luz iluminou-nos, apontando um novo caminho. Partilhando a vida conosco, Cristo afirmou: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo. 14,6) “Vim ao mundo para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo. 14,6; 10,10).

O apóstolo Paulo é o grande mestre em nos ensinar que viver consiste em estar unido a Jesus Cristo e a morte é a união definitiva com Ele: “Desejo morrer para estar com Cristo” (Fil. 1,23). O sentido da vida para Paulo estava na pessoa de Cristo: “Pois, minha vida é Cristo” (Fil 1,21).

Pois bem, se toda nossa vida se centraliza em Cristo, que nos leva ao Pai através do seu Espírito, vamos, então, nos firmar, de modo sólido e definitivo, na pessoa do Senhor Jesus. É o melhor propósito que podemos fazer por ocasião do Dia de Finados.

Dom Antônio de Sousa, 78, bispo emérito de Assis (SP)

Publicado no Portal da Comunidde Shalom

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Amar se aprende amando

Se colhêssemos o verbo amar analisando-o somente gramaticalmente, veríamos que se trata, obviamente, de um verbo transitivo direto. Quem ama, ama alguém ou alguma coisa. É, portanto, verbo que exige um objeto, um motivo, uma causa que lhe dê razão e lhe dê sentido de existência. Não existe sem este complemento, pois, do contrário, estaria fadado à inutilidade. Não somente na frase ou no discurso o verbo amar carece desse algo mais que o justifica Também nas nossas vidas e no nosso coração esta verdade é plena de significado, haja vista que, ao conjugá-lo sem essa razão que lhe dá alicerce, o nosso aprendizado afetivo não existiria. Cristãos zelosos que muitas vezes achamos que somos, somos levados a exercer o nosso amor tendo em vista o objeto essencial da nossa vida: o próprio Cristo ressuscitado, que já na sua cruz havia atestado, sob a sua dor e sofrimento, que era a humanidade pecadora e algemada pela maldade o objeto primordial de Sua paixão. Levando-se em conta essa conclusão, ao colocarmos Cristo como meta de nosso amor, estaríamos selando essa obra que, afinal de contas, é a razão de ser de toda a criação operada por Deus. Seria perfeito e lucraríamos o Céu se atingíssemos esse objetivo. No entanto...

Falar de amor, hoje, é uma facilidade sem tamanho. Virou rima pobre de música, discurso barato na azaração dos jovens e desculpa para crimes e barbaridades; enfim, perdeu quase que completamente a excelência dada por Jesus em Sua vida. Depois de milênios quebrando a cabeça ao tentar se abrir em direção aos outros e a Deus, o homem parece ainda infantil ao definir o significado pleno do ato de amar na sua existência. E, como o significado exato lhe escapa pela sua teimosia em não escutar a Deus que mora em si, ele vai chamando de amor qualquer coisa que se assemelhe a este sentimento, segundo seu juízo ferido e perdido.

É interessante como, na boca de Cristo, a palavra amor ganha um significado intenso e simples. Ele ordena: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei! Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. O que vos mando é que vos ameis uns aos outros!” (Jo 14, 12-17). Nota-se que é uma exortação, uma necessidade, um pressuposto lógico para se obter a tão desejada salvação. Não há caminhos miraculosos ou misteriosos para se chegar à Graça – o amor consegue ser, ao mesmo tempo, causa e conseqüência, ação e reação, contração e distensão. Para o homem, porém, o amor é o pior dos caminhos, a mais falha, decadente e sem-graça das suas aspirações, porque ele não busca atar esse elo com Deus (e, é claro, con-sigo mesmo). Ele busca ater-se ao seu egoísmo, à sua humanidade, tentando assim vivenciar uma mudança de vida a partir de suas próprias forças, falhas e poucas. Amar torna-se um far-do, um peso, porque é verbo que pede como objeto, além de próprio amante, o amado, que é sua razão de ser...

Segundo Dom Amaury Castanho, “(...) é fácil perceber, no conjunto da mensagem do Nazareno, que o Reino de Deus se caracteriza pelo amor e a justiça, a pobreza e a paz, a graça divina, a verdade e a simplicidade”. O amor é a substância do Céu. Aliás, o amor é a essência de Deus, e ele torna-se “preso” à ela quando nos elege como objeto de seu amor, posto que ele só sabe amar, na infinitude de si. Essa “prisão” é, para nós, o verdadeiro significado da liberdade, mas não a buscamos porque nos prendemos ao pecado que há em nós, trazido como herança pela desobediência primeira da humanidade, que quebrou, no início da criação, esse elo com Deus, que é aliança de amor e a própria história da salvação de todos nós.

O ato de amor deve concluir-se com total perfeição, a fim de conseguirmos a eternidade. Exige-se, pois, um sujeito, um verbo e um seu objeto para que, unidos entre si, perfaçam o sentido da caridade que Cristo legou em Sua Palavra. Um sujeito que, livre e espontaneamente, almeja agir para obter o amor; um verbo que, em si, já expressa esse desejo de buscar o outro para atingir o seu pleno significado; e, por fim, um objeto que deseja receber esse amor para, respeitada a aliança, devolvê-lo em maior magnitude. O verbo a escolher é o amor. Nós, então, devemos ser este sujeito de amor e Deus deve ser objeto da nossa ação, haja vista que Ele, na nossa vida, já conjugou, antes e infinitamente, o verbo amar em nós e na nossa existência...

Os santos souberam escolher o objeto de seu amor e, por isso, gozam do Céu. Entre eles, destaca-se sua Rainha, Maria, Mãe Santíssima de Jesus, que fez do seu “sim” sinal claro de sua opção pelo amor maduro e desmedido, impulsionado pela grandeza de Deus que abraça sua pequenez (cf. Lc 1, 38). Ninguém amou como ela o Verbo Amor de Deus, guardando-o em seu seio e conduzindo-o com sua maternal afeição. Ela soube descobrir o segredo e o mistério de amar, fazendo a simples escolha pelo amor, sem grandes ambições e sem se apegar a si mesma e à sua humanidade. De Maria, aprendemos o amar que é ação de Cristo, substância e essência de Deus. Amar na coragem e na ousadia que quem já se sabe objeto especial desse Amor...

Contato com o autor: shbreno@yahoo.com.br


Publicado originalmente no Portal da Comunidade Shalom