"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Comunicação pobre, relacionamento vazio


Situações mal resolvidas apenas tornam nosso convívio frio

Encontrar a pessoa certa - que corresponda exatamente a tudo aquilo que gostamos ou não de fazer e que entenda perfeitamente nossos sentimentos diante de uma situação contrária - pode parecer ideal, mas pouco provável.

Cada indivíduo tem uma resposta diferente para determinada situação. Conhecer nossos limites e controlar as fraquezas de nossos temperamentos pode ser a “pitada” certa para dar equilíbrio aos nossos relacionamentos.

Muitas vezes, dentro do convívio do casal, vai acontecer algo que nos tire do sério. Nessas horas, as circunstâncias podem nos levar a atitudes tempestivas, as quais trarão à tona um comportamento pouco conhecido pelo nosso cônjuge. Por isso, saber que ninguém é um “super-homem” em virtudes ou uma “mulher maravilha” em compreensão nos permite conhecer as “misérias” do outro; e isso faz parte dos desafios de uma vida a dois.

Na partilha das realidades da vida conjugal percebemos as particularidades de temperamentos do cônjuge. Freqüentemente, ouvimos alguém dizer que, por medo das reações do outro diante de certa circunstância, preferiu se calar em vez de expor suas idéias e reivindicações em prol da harmonia desejada.

Há pessoas que lidam mais facilmente com os desafios; outras são mais racionais ou têm facilidade para assumir a liderança das coisas, e assim por diante. Entretanto, ninguém é puramente virtude, pois também trazemos conosco nossos defeitos. Entendendo que um relacionamento acontece numa “via de mão dupla”, precisamos estar atentos para não exigir do outro somente atitudes de perfeição, quando reconhecemos em nós mesmos defeitos, os quais podem ser corrigidos com a disposição em sermos melhores por causa do outro.

Nosso cônjuge é a pessoa mais indicada para apontar aquilo em que precisamos nos empenhar a fim de melhorar nosso temperamento; o que, conseqüentemente, acaba refletindo no convívio a dois.

Não é nada agradável ouvir que cometemos um engano nisso ou naquilo, especialmente de quem amamos; afinal, nosso próprio conceito é de ser alguém irrepreensível. No entanto, um bom relacionamento traz sinais de sucesso quando o casal se dispõe a viver a honestidade, sobretudo, de maneira respeitosa na franqueza dos diálogos. As atitudes defensivas ou a recusa de conversar sobre aquilo que o outro julga importante dizer em nada ajudará no crescimento dos laços entre os casais. Num convívio em que a comunicação entre as pessoas é pobre, os vínculos facilmente se enfraquecem e favorecem a desconfiança e a falta de respeito; atropelando, quase sempre, o direito e a integridade do outro.

Situações mal resolvidas apenas tornam nosso convívio frio. Antes mesmo que escoem pelos ralos os anos de amizade e comprometimento, a melhor atitude é falar sobre aquilo que parece não estar indo bem, a fim de encontrar uma saída, juntos, para uma situação que está tirando a paz no convívio.

Quando podemos contar com o interesse e a disposição do outro para nos ajudar a equacionar os impasses, a solução não parece ser tão impossível quanto parecia ser num primeiro instante.

Assim, juntos e com a boa vontade de quem quer nutrir o amor, conseguiremos nos moldar às necessidades do outro para o comum do novo estado de vida, para o qual somos impelidos a viver.

Um abraço,

José Eduardo Moura

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dois mil anos de igreja

Pela História da Igreja podemos ver com clareza a sua transcendência e divindade. Nenhuma instituição humana sobreviveu a tantos golpes, perseguições, martírios e massacres durante 2000 mil anos; e nenhuma outra instituição humana teve uma seqüência ininterrupta de governantes. Já são 265 Papas desde Pedro de Cafarnaum.

Esta façanha só foi possível porque ela é verdadeiramente divina; divindade esta que provém Daquele que é a sua Cabeça, Jesus Cristo. Ele fez da Igreja o Seu próprio Corpo (cf. Cl 1,18), para salvar toda a humanidade.

Podemos dizer que, humanamente falando, a Igreja, como começou, “tinha tudo para não dar certo”. Ao invés de escolher os “melhores” homens do Seu tempo, generais, filósofos gregos e romanos, etc., Jesus preferiu escolher doze homens simples da Galiléia, naquela região desacreditada pelos próprios judeus.

“Será que pode sair alguma coisa boa da Galiléia?” Isto, para deixar claro a todos os homens, de todos os tempos e lugares, que “todo este poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (2Cor 4,7); para que ninguém se vanglorie do serviço de Deus.

Aqueles Doze homens simples, pescadores na maioria, “ganharam o mundo para Deus”, na força do Espírito Santo que o Senhor lhes deu no dia de Pentecostes. “Sereis minhas testemunhas… até os confins do mundo” (At 1, 8).

Pedro e Paulo, depois de levarem a Boa Nova da salvação aos judeus e aos gentios da Ásia e Oriente Próximo, chegaram a Roma, a capital do mundo, e ali plantaram o Cristianismo para sempre. Pagaram com suas vidas sob a mão criminosa de Nero, no ano 67, juntamente com tantos outros mártires, que fizeram o escritor cristão Tertuliano de Cartago(†220) dizer que: “o sangue dos mártires era semente de novos cristãos”. Estimam os historiadores da Igreja em cem mil mártires nos três primeiros séculos. Talvez isto tenha feito os Padres da Igreja dizerem que “christianus alter Christus” (o cristão é um outro Cristo), que repete o caminho do Mestre.

Mas estes homens simples venceram o maior império que até hoje o mundo já conheceu. Aquele que conquistou todo o mundo civilizado da época, não conseguiu dominar a força da fé. As perseguições se sucederam com os 12 Césares romanos: Décio, Dioclesiano, Valeriano, Trajano, Domiciano, etc…, até que Constantino, cuja mãe se tornara cristã, Santa Helena, se converteu ao Cristianismo. No ano 313 ele assinava o edito de Milão, proibindo a perseguição aos cristãos, depois de três séculos de sangue. E nem mesmo o imperador Juliano, por volta do ano 390, o apóstata, conseguiu fazer recuar o cristianismo, e no leito de morte exclamava: “Tu venceste, ó galileu!”.

O grande Império se ajoelhou diante de Cristo; a orgulhosa espada romana se curvou diante da Cruz.

A marca impressionante desta Igreja invencível e infalível, esteve sempre na pessoa do sucessor de Pedro, o Papa. Os Padres da Igreja cunharam aquela frase que ficou célebre: “Ubi Petrus, ibi ecclesia; ubi ecclesia ibi Christus” (Onde está Pedro, está a Igreja; onde está a Igreja está Cristo). Já é um cadeia de 266 Papas, ininterrupta. Jamais se viu isso em qualquer outra Instituição humana. Os Impérios acabaram: Egípcio, Babilônico, Caldeu, Persa, Grego, Romano, Mongol … mas a marcha inexorável da Santa Igreja continua.

“Tu és Pedro; e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja… e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).

Depois da perseguição romana, vieram as terríveis heresias. Já que o demônio não conseguiu destruir a Igreja, a partir de fora, tentava agora fazê-lo a partir de dentro. De alguns patriarcas das grandes sedes da Igreja, Constantinopla, Alexandria, Antioquia, Jerusalém, e outras partes , surgiam as falsas doutrinas, ameaçando dilacerar a Igreja por dentro. Era o pelagianismo, o maniqueísmo, o gnosticismo, o macedonismo, nestorianismo, etc.. Mas o Espírito Santo incumbiu-se de destruir todas elas, e o barco da Igreja continuou o seu caminho até nós.

Os grandes defensores da fé e da sã doutrina, foram os “Padres” da Igreja: Inácio de Antioquia (†107), Clemente de Roma (†102), Ireneu de Lião (†202), Cipriano de Cartago(† 258), Hilário de Poitiers (†367), Cirilo de Jerusalém (†386), Anastácio de Alexandria (†373), Basílio (†379), Gregório de Nazianzo (†394), Gregório de Nissa (†394), João Crisóstomo de Constantinopla (†407), Ambrósio de Milão (†397), Agostinho de Hipona (†430), Jerônimo (420), Éfrem (†373), Paulino de Nola (†431), Cirilo de Alexandria (†444), Leão Magno (†461), e tantos outros que o Espírito Santo usou para derrotar as heresias nos diversos Concílios dos primeiros séculos.

Cristo deixou a Sua Igreja na terra como “a coluna e o sustentáculo da verdade” 1Tm 3,15). Todas as outras comunidades cristãs foram derivadas da Igreja Católica; as ortodoxas romperam em 1050; as protestantes em 1517; a anglicana, em 1534, etc.

Depois que desabou o Império Romano do ocidente, coube à Igreja o papel de mãe destes filhos abandonados nas mãos dos bárbaros. S.Leão Magno, Papa e doutor da Igreja, enfrentou Átila, rei dos hunos, às portas de Roma, e impediu que este bárbaro, o “flagelo da História”, destruísse Roma; o mesmo fez depois com Genserico. Aos poucos a Igreja foi cristianizando os bárbaros, até que o rei e a rainha dos francos, Clovis e Clotilde, recebessem o batismo no ano 500. Era a entrada maciça dos bárbaros no cristianismo. Nascia a França católica; “a filha mais velha da Igreja”. Papel importantíssimo nesta conquista lenta e silenciosa coube aos monges e seus mosteiros espalhados em toda a Europa, especialmente os beneditinos, que preservaram a cultura do Ocidente. A Igreja salvou o mundo da destruição dos Bárbaros.

Mais adiante, no Natal do ano 800, na Catedral de Reims, na França, o rei franco Carlos Magno era coroado pelo Papa. Também os bárbaros se rendiam à fé de Cristo. Isto foi possível graças aos milhares de evangelizadores que percorreram toda a Europa anunciando a salvação trazida por Jesus ao mundo.

Em toda a Idade Média imperou a marca do cristianismo na Europa. Aspirava-se e respirava-se a fé. Surgiram as Catedrais como a bela expressão da fé; as Cruzadas ao Oriente no zelo de libertar a Terra Santa profanada; as Universidades cristãs, Bolonha, Sorbonne, Oxford, Salamanca, Coimbra, La Sapienza, etc, todas fundadas pela Igreja de Cristo. A Igreja é a mãe da cultura e do saber no Ocidente.

Mas a fé sempre esteve ameaçada; nos tempos modernos levantaram-se contra a Igreja as forças do materialismo, do comunismo, do nazismo, do racionalismo e iluminismo ateu; e fizeram milhares de mártires cristãos, especialmente neste triste século vinte que há pouco findou.Certa vez Stalin, ditador soviético, para desafiar a Igreja, perguntou “quantas legiões de soldados tinha o Papa”; é pena que não sobrevivesse até hoje para ver o que aconteceu com o comunismo. Mas a Igreja continua como nunca, até o final da História, quando Cristo voltará para assumir a Sua Noiva. Será as Bodas definitivas e eternas do Cordeiro com a Sua Igreja.

Felipe Aquino – www.cleofas.com.br

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A alegria de estar com Deus

Estamos às vésperas da festa litúrgica de Santo Agostinho. O pensamento se volta, quando refletimos sobre o tema deste artigo, para aquela vida marcada, mesmo quando errava longe, pela ânsia do Infinito.


Na leitura da Sagrada Escritura, a esmo, por acaso, deparou ele com o texto paulino, da Carta aos Romanos, que diz para não nos afogarmos nos vícios e bebedeiras, mas revestirmo-nos do Senhor Jesus(cf. Rom. 13, 13-14)e sentiu a inspiração divina. Abriu-se à conversão.

Nas suas “Confissões”, em profunda união com Deus, exclama: “Ó Beleza, ó Beleza infinita! Tarde demais vos amei. Estáveis em mim e eu vos procurava fora”. O gozo da presença de Deus inundava o seu coração. Ele que passara anos e anos à procura de Deus nas realidades do mundo sem se satisfazer na ciência ou na vida livre, agora sentia a felicidade do encontro com a Beleza.

A intimidade da vida com Deus não precisa de forma nem de lugar. Está dentro de nosso coração. Na liturgia da missa, repete-se, várias vezes a saudação: “O Senhor esteja convosco”, o que nos relembra a saudação do Anjo à Virgem Maria: “O Senhor está contigo”. Maria, cheia de graça, tinha sempre diante dos olhos a presença de Deus.

Nos caminhos da vida, acreditava nesta presença e, fosse qual fosse o acontecimento, de alegria ou de dor, sentia a força do Espírito Divino a conduzi-la na realização da sua missão. Deixou-se impregnar-se totalmente de Deus e Nele se comprazia sua alma: “Minha alma engrandece o Senhor e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”.(cf. Lc 1, 46-47)

A alma cristã também deve deixar-se impregnar totalmente da presença de Deus. Em linguagem analógica, as Sagradas Escrituras nos falam, no Livro dos Cânticos, na figura do amor humano, da felicidade deste encontro.

A alma enamorada somente pensa no esposo, busca-o pelas ruas e praças, pergunta por ele aos vigias da noite e, quando o encontra com ele sacia a sede de amor.

São João da Cruz deixou-nos “Ditos de Amor e Luz” que são frases espirituais de que jorram a alegria de estar com Deus. E, na sua apresentação, humildemente, confessa que deleitando-se com esta presença, não pode a ela corresponder por causa de suas fraquezas e nô-las transmite, porque poderemos aproveitar em nosso serviço e amor naquilo que ele sente falhar.

Vale rezá-las, ou melhor, deixar que nosso espírito mergulhe na misericórdia infinita de Deus que está sempre presente: “Ó dulcíssimo amor de Deus, mal conhecido! Quem te encontrou a fonte, repousou.”

Sabemos que o peso de nossos pecados tenta nos afastar desta fonte. Como o pássaro que se deixou prender na armadilha, diz-nos o santo, temos de fazer dois trabalhos, o de libertar-nos e o de nos limpar para poder voar. Mas disso também nos livra o amor de Deus que nos manda lançar para traz o fardo dos pecados e caminhar na força da fé e do amor, pois tanto Ele nos amou que entregou seu Filho à morte por nós.

Conta-se de São Jerônimo que feria seu peito com uma pedra pedindo perdão de seus pecados e perguntava: “que queres de mim, Senhor?” E Jesus lhe respondeu: “Jerônimo, eu quero os teus pecados”.

Nem mesmo os nossos pecados devem ser empecilhos para vivermos a alegria da presença de Deus. Pelo contrário, quanto maiores pecadores formos, tanto mais devemos buscar no Coração misericordioso de Jesus, o perdão no amor, a alegria e sermos perdoados no amor, como cantamos nos ritos penitenciais.

Parafraseando orações dos salmos, o inolvidável monge, Dom Marcos Barbosa, escreveu um belo poema que se inicia assim: “Bem debaixo, Senhor, de tua asa, coloca a nossa casa” e prosseguindo nas nossas necessidades materiais de cada dia, conclui pedindo: “tranqüilo seja o sono sob a cruz, que tanto a outro sol conduz.”

Experimentemos ter Deus constantemente conosco. Em cada momento de nossos dias, uma aspiração por seu amor. Uma afirmação de nossa fé e confiança, uma entrega total em suas mãos, como rezamos no salmo: “Lança tuas preocupações no Senhor e Ele te sustentará”. E caminhemos com alegria e coragem até o dia em que, ao ouvirmos o seu chamado, pudermos dizer, como Cristo, “Pai em tuas mãos entrego meu espírito”.

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.

Publicado no portal A Catequese Católica

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Contemplar o rosto de Cristo na Palavra

“A contemplação do rosto de Cristo não pode inspirar-se senão àquilo que se diz d’Ele na Sagrada Escritura, que está, do princípio ao fim, permeada pelo seu mistério; este aparece obscuramente esboçado no Antigo Testamento e revelado plenamente no Novo, de tal maneira que S. Jerônimo afirma sem hesitar: « A ignorância das Escrituras é ignorância do próprio Cristo ».Permanecendo ancorados na Sagrada Escritura, abrimo-nos à ação do Espírito (cf. Jo 15,26), que está na origem dos seus livros, e simultaneamente ao testemunho dos Apóstolos (cf. Jo 15,27), que fizeram a experiência viva de Cristo, o Verbo da vida: viram-No com os seus olhos, escutaram-No com os seus ouvidos, tocaram-No com as suas mãos (cf. 1 Jo 1,1). Por seu intermédio, chega-nos uma visão de fé, sustentada por um testemunho histórico concreto: um testemunho verdadeiro que os Evangelhos, apesar da sua redação complexa e finalidade primariamente catequética, nos oferecem de forma plenamente atendível.9

De fato, os Evangelhos não pretendem ser uma biografia completa de Jesus, neles aparece com fundamento histórico seguro, o rosto do Nazareno, visto que foi preocupação dos Evangelistas delineá-lo, recolhendo testemunhos fidedignos (cf. Lc 1,3) e trabalhando sobre documentos sujeitos a cuidadoso discernimento eclesial. Foi com base nestes testemunhos da primeira hora que eles, sob a acção iluminadora do Espírito Santo, souberam do fato — humanamente desconcertante — de Jesus ter nascido virginalmente de Maria, esposa de José. Daqueles que O tinham conhecido durante os trinta anos aproximadamente que vivera em Nazaré (cf. Lc 3,23), recolheram os dados sobre a sua vida de « filho do carpinteiro » (Mt 13,55) e d’Ele mesmo « carpinteiro », com o quadro da sua parentela bem especificado (cf. Mc 6,3). E registraram a sua grande religiosidade que O levava a ir em peregrinação anual, juntamente com os seus, ao templo de Jerusalém (cf. Lc 2,41) e sobretudo fazia d’Ele um freqüentador habitual da sinagoga da sua cidade (cf. Lc 4,16).

As notícias tornam-se mais abundantes, embora não cheguem a ser um relato orgânico e detalhado, no período do ministério público, a começar do momento em que o jovem Galileu Se fez batizar por João Baptista no Jordão; animado pelo testemunho do Alto e com a consciência de ser o « Filho predileto » (Lc 3,22), dá início à sua pregação anunciando a chegada do Reino de Deus, ilustrando as suas exigências e a sua força através de palavras e sinais de graça e misericórdia. Os Evangelhos apresentam - no-lo caminhando por cidades e aldeias, acompanhado por doze Apóstolos que Ele escolhera (cf. Mc 3,13-19), por um grupo de mulheres que O servem com os seus bens (cf. Lc 8,2-3), por multidões que O procuram e seguem por doentes que esperam no seu poder de cura, por interlocutores que ouvem, com variado proveito, as suas palavras.

A narração dos Evangelhos concorda também no fato de mostrar a tensão que foi crescendo entre Jesus e os grupos dominantes da sociedade religiosa de então até à crise final, que teve o seu epílogo dramático no Gólgota. É a hora das trevas, à qual se segue uma aurora nova, radiante e definitiva. De fato, os relatos evangélicos terminam mostrando o Nazareno vitorioso sobre a morte: assinalam o seu túmulo vazio e acompanham-No no ciclo das aparições, durante as quais os discípulos, primeiro perplexos e atônitos e depois cheios de inefável alegria, O experimentam vivo e glorioso, tendo recebido d’Ele o dom do Espírito (cf. Jo 20,22) e o mandato de anunciar o Evangelho a « todas as nações » (Mt 28,19)”

(João Paulo II Novo Milênio Ineunte).

Publicado no Blog Formação da Comunidade Canção Nova

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: Temor de Deus


Temor de Deus

Para entender o significado desde dom, distingamos diversos tipos de temor: a) o temor covarde ou da covardia; b) o temor servil ou do castigo; c) o temor filial. Este consiste na repugnância que o cristão experimenta diante da perspectiva de poder-se afastar de Deus; brota das próprias entranhas do amor. Não se concebe o amor sem este tipo de temor.

Com outras palavras: as virtudes afastam, sim, o cristão do pecado, ajudando-o a vencer as tentações. Isto, porém, acontece através de lutas, hesitações e, não raro, deficiências. Ora pelo dom do temor de Deus a vitória é rápida e perfeita, pois então é o Espírito que move o cristão a dizer Não à tentação.

O dom do temor de Deus se prende inseparavelmente à virtude da humildade. Esta nos faz conhecer nossa miséria; impede a presunção e a vã glória, e assim nos torna conscientes de que podemos ofender a Deus; daí surge o santo temor de Deus. O mesmo dom também se liga à virtude da temperança; esta modera a concupiscência e os impulsos desordenados do coração; com ela converge o temor de Deus, que, por impulso de ordem superior, modera os apetites que poderiam ofender a Deus.

Os santos deram provas sensíveis de santo temos de Deus. Tenha-se em vista S. Luís de Gonzaga, que, conforme se narra, derramou copiosas lágrimas certa vez quando teve que confessar suas faltas,... faltas que, na verdade, dificilmente poderiam ser tidas como pecados. Para o santo, essas pequeninas faltas eram sinais do perigo de poder um dia afastar-se de Deus. Ora, para quem ama, qualquer perigo deste tipo tem importância.

Eis, em grandes linhas, o significado dos dons do Espírito Santo na vida cristã. São elementos valiosos para o progresso interior, elementos que o Espírito mais e mais utiliza, se o cristão procura amar realmente a Deus e ao próximo e jamais dizer um Não consciente às inspirações da graça.

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Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

domingo, 24 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: Fortaleza


Fortaleza

A fidelidade à vocação cristã depara-se com obstáculos numerosos, alguns provenientes de fora do cristão; outros, ao contrário, do seu íntimo ou das suas paixões. Por isto diz o Senhor que “o Reino dos céus sofre violência dos que querem entrar, e violentos se apoderam dele” (Mt 11, 12).

Ora, em vista da necessidade de coragem e magnanimidade que incumbe ao cristão, o Espírito lhe dá o dom da fortaleza. Esta nem sempre consiste em realizar vultosas e admiradas pelo público, mas não raro implica paciência, perseverança, tenacidade, magnanimidade silenciosas... Pelo dom da fortaleza, o Espírito impele o cristão não apenas àquilo que as forças humanas podem alcançar, mas também àquilo que a força de Deus atinge. É essa força de Deus que pode transformar os obstáculos em meios; é ela que assegura tranqüilidade e paz mesmo nas horas mais tormentosas. Foi ela que inspirou a S. Francisco de Assis palavras tão significativas quanto estas: “Irmão Leão, a perfeita alegria consiste em padecer por Cristo, que tanto quis padecer por nós”.

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Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

sábado, 23 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: Piedade


Piedade

Todo homem é chamado a viver em sociedade, relacionando-se com Deus e com os seus semelhantes. Requer-se que esse relacionamento seja reto ou justo. Por isto a virtude da justiça rege as relações de cada ser humano, assumindo diversos nomes de acordo com o tipo de relacionamento que ela deve orientar: é justiça propriamente dita, sempre que nos relacionamos com aqueles a quem temos uma dívida rigorosa; a justiça se torna religião desde que nos voltemos para Deus; é piedade, se nos relacionamos com nossos pais, nossa família ou nossa pátria; é gratidão, em relação aos benfeitores.

Ora há um dom do Espírito que orienta divinamente todas as relações que temos com Deus e com o próximo, tornando-as mais profundas e perfeitas: é precisamente o dom da piedade. São Paulo implicitamente alude a este dom quando escreve: “Recebestes o espírito de adoção filial, pelo qual bradamos: “Abá, ó Pai” (Rm 8, 15). O Espírito Santo, mediante o dom da piedade, nos faz, como filhos adotivos, reconhecer Deus como Pai.

E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as criaturas com olhar novo, inspirado pelo mesmo dom da piedade..

Examinemos de mais perto os efeitos do dom da piedade.

Frente a Deus ele nos leva a superar as relações de “dar e receber” que caracterizam a religiosidade natural; leva a não considerar tanto os benefícios recebidos da parte de Deus, mas, muito mais, o fato de que Deus é sumamente santo e sábio: “Nós vos damos graças por vossa grande glória”, diz a Igreja no hino da Liturgia eucarística; é, sim, próprio de um filho olhar a honra e a glória de seu pai, sem levar em conta os benefícios que ele possa receber do mesmo. É o dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória de Deus “... para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento, ao passo que S. Inácio de Loiola exclama: “... para a maior glória de Deus”. É também o dom da piedade que desperta no cristão viva e inabalável confiança em Deus Pai,... confiança e entrega das quais dá testemunho S. Teresinha de Lisieux na sua doutrina sobre a infância espiritual.

O dom de piedade não incita os cristãos apenas a cumprir seus deveres para com Deus de maneira filial, mas leva-os também a experimentar interesse fraterno para com todos os seus semelhantes. Típico exemplo deste sentimento encontra-se na vida de S. Francisco de Assis: quando este, certo dia, sonhando com as glórias de um cavaleiro medieval, avistou um leproso, sentiu-se impelido a superar qualquer repugnância e a dar-lhe o ósculo que exprimia a fraternidade de todos os homens entre si.

O dom de piedade, tornando o cristão consciente de sua inserção na família dos filhos de Deus, move-o a ultrapassar as categorias do direito e do dever, a fim de testemunhar uma generosidade que não regateia nem mede esforços desde que sirva aos irmãos. É o que manifesta o Apóstolo ao escrever: “Quanto a mim, de bom grado me despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor” (2Cor 12, 15).

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Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

O 'sim' da conversão


Converter-se é deixar de viver na mentira

Converter-se é deixar de viver longe de Deus. Sair do estado de perdição, deixar o pecado. Não somente o ato mau em si, mas deste resulta no estado da perda da salvação e o sentimento de inimizade contra Deus. Conversão consiste em voltar para o Senhor com todo coração, retomar o caminho das suas veredas.

A conversão é um conceito complexo, que significa uma profunda mudança de coração sob o influxo da Palavra de Deus. Essa transformação interior exprime-se nas obras e, por conseguinte, na vida inteira do cristão. A conversão significa a vitória sobre o “homem velho” que está enraizado (a existência carnal) e o começo de uma vida nova (a vida no Espírito) criada e governada pelo Espírito Santo de Deus. É um fato que na História da Salvação, após o pecado original, cada vez que Deus vai ao encontro do homem para com ele dialogar. Faz isso para provocar no mesmo ser humano a conversão do coração.

Não basta renunciar somente a um ato mau nem a um hábito pecaminoso. Precisa-se ir ao centro da existência; todo coração e todo o procedimento devem ser mudados. O afastamento de Deus somente termina quando o próprio Deus se achega pessoalmente ao homem.

A conversão como saída do estado de pecado, de ausência de Deus e de perda da salvação está unida à aceitação incondicional da soberania divina. Reconhecer que praticou o mal, que tem necessidade de redenção e de uma transformação completa.

Quem realmente se converte, submete-se de boa vontade à lei divina. Renuncia à vida de ilegalidade.

Converter-se é deixar de viver na injustiça. Quem se converte reconhece o quanto deve a Deus e esforça-se por Lhe dar a devida honra. Todo pecado cria um estado permanente de sonegação de justiça para com Deus. É uma inimizade habitual, uma injustiça. É uma recusa permanente de dar ao Senhor a glória que Lhe pertence e de prestar ao Pai a obediência e o amor filial. A conversão tira-nos deste mísero estado. Supõe uma renovação integral do coração.

Converter-se é deixar de viver na mentira. Quem se converte afasta-se da mentira. O pecado é mentira. Por isso, a conversão requer uma mudança total de mentalidade, um espírito novo, o Espírito da Verdade. A conversão é um ‘sim’ à verdade.

Conversão é a volta à casa do Pai e a entrada no Reino. É a passagem das trevas do pecado para a luz da Graça. O caminho que Deus aponta conduz a uma conversão séria e autêntica do coração. Deus apela para a liberdade humana e que a íntima conversão desta liberdade é obra Sua.

A conversão se inicia no momento em que Deus se digna de derramar “o espírito de graça e de preces” (Zac 12, 10). Porém, nossa conversão não se realizará sem o ‘sim’ de nossa liberdade.

A conversão culmina - é próprio da sua essência - em um novo nascimento, num renascimento do alto, de Deus. A volta à casa do Pai é a reintegração nos direitos de filho. Não é algo que se processa unicamente no exterior, mas é uma ação interior, uma modificação vital, um nascimento pelo Espírito. Para o homem, a conversão é, pois, infinitamente mais que o simples fato negativo de se livrar da escravidão do pecado, porque, para Deus, converter-se é infinitamente mais que perdoar pecados, é fazer o dom de uma vida nova. O homem torna-se filho de Deus.

O único modo efetivo de descobrir sempre mais a própria identidade é árduo, mas consolador, caminho da conversão sincera e pessoal, com um humilde reconhecimento das próprias imperfeições e pecados; e a confiança na força da ressurreição de Cristo. Essa transformação interior exprime-se nas obras e, por conseguinte, na vida inteira do cristão.

Pe. Reinaldo

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Cristão da reclamação ou do louvor?


Existem muitos cristãos que poderiam ser chamados de cristãos reclamões

Olhando para o Cristianismo, para os inícios da Igreja, o que percebemos é a alegria dos cristãos, o amor que fluía entre eles a ponto de encantar até mesmo aos pagãos e incomodar os judeus. Era uma “Igreja” movida pelo louvor, pela gratidão, pela exultação do nome d’Aquele que não estava morto, o Ressuscitado dos mortos: JESUS!

Muitos se aproximaram do Cristianismo por causa desse amor e dessa alegria transbordante, que era uma marca dos cristãos; e claro, precisa continuar sendo. Temos um Deus vivo, que caminha conosco, e que prometeu “permanecer conosco todos os dias, até o fim dos tempos”. Aleluia!

O que temos visto hoje contradiz ao que se testemunhou no início do Cristianismo e que nos acompanhou até agora. Muitos cristãos têm sido contratestemunho para os próprios cristãos, e até mesmo para aqueles que não o são. Vemos, nos tempos atuais, muita divisão, muito desamor, muita provocação e muito cristão triste, mal-humorado, rancoroso, com uma aparência sisuda. Muitos deles parecem infelizes no que experimentam em Jesus.

O louvor deixou de fazer parte da vivência de muitos cristãos - a exultação, a vibração e a alegria deixaram de fazer parte do dia-a-dia. Deixaram de olhar para o Senhor, que nos deu a vida, e para a vitória, para se apegarem aos problemas. Deixaram de se alimentar da certeza da presença do Ressuscitado; muitos têm feito um caminho individualista e de solidão, mergulhados em si mesmos.

Uma vez ouvi uma história de uma criança que comentou com a mãe que nunca queria comungar, pois todas as vezes em que ela o fazia voltava para o banco da igreja e ficava com uma cara fechada, feia e podemos afirmar que - para quem realmente está em Cristo, para quem entregou realmente sua vida nas mãos do Senhor e confia n’Ele plenamente - não há motivos para a reclamação, para a murmuração, para o “chororo”.

Quem entregou sua vida para Cristo caminha com os olhos da fé, e vê além da enfermidade, vê além da perda de um ente querido, vê além da dificuldade financeira, vê além dos problemas familiares e tem uma certeza que gera alegria e gratidão no coração: “O Senhor está próximo”.

Ao passo que todo aquele que deposita a sua confiança em si mesmo, nas pessoas, e simplesmente nas soluções humanas e materiais vai ser sempre um reclamão, um chorão, um murmurador, e quando a dor chegar será capaz de deixar o Senhor e seguir o fácil, as soluções imediatistas.

A cruz é só uma passagem, que nos garante a vitória sobre a morte, pois depois dela é a ressurreição. Por isso, meu amado, minha amada: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos” (Fl 4, 4).

Leia a carta da alegria de Paulo, a Carta aos Filipenses, e veja como é bom e seguro abandonar-se inteiramente nas mãos do Senhor!

Deus abençoe!

Seu irmão,

Pe. Roger Luis

Veja também a História de conversão do Pe. Roger Luis


Publicado no Portal da Canção Nova

Os sete dons do Espírito Santo: Conselho


Conselho

Afirmam os teólogos que Deus não deixa faltar às suas criaturas o que lhes é necessário, nem é propenso a dons supérfluos, pois Deus tudo faz com número, peso e medida (cf. Sb 11, 20). Em tudo resplandece a sua sabedoria. Por isto é que Deus é providente, ou seja, Ele providencia os meios para que cada criatura chegue retamente ao seu fim devido.

Ora acontece que, para realizarmos determinada atividade, exercemos um processo mental que tem por objetivo examinar cuidadosamente não só a conveniência dessa atividade, mas também todas as circunstâncias em que ela se deve desenrolar. Muitas vezes esse processo se efetua sem que dele tomemos plena consciência. Quanto, porém, nos vemos diante de uma tarefa rara ou mais exigente do que as de rotina, o processo deliberativo é mais intenso e, por isto, se torna mais consciente; a mente se esforça por ver claro e fazer a opção mais adequada, sem que, porém, o consiga de imediato. Não raro é necessário recorrer ao conselho de outra pessoa mais experimentada.

É por efeito da virtude (natural e infusa) da prudência que cada cristão delibera sobre o que deve e não deve fazer. É a prudência que avalia os meios em vista do respectivo fim.

Pois bem. Em correspondência à virtude da prudência, existe um dom do Espírito Santo, chamado “dom do conselho”. Este permite ao cristão tomar as decisões oportunas sem a fadiga e a insegurança que muitas vezes caracterizam as deliberações da virtude da prudência. Esta por si não basta para que o cristão se comporte à altura da sua vocação de filho de Deus,... vocação que exige simultaneamente grande cautela ou circunspecção e extrema audácia ou coragem. Nem sempre a virtude humana entrevê nitidamente o modo de proceder entre polos antitéticos. A criatura, limitada como é, nem sempre consegue conhecer adequadamente o momento presente, menos ainda é apta a prever o futuro e – ainda – sente dificuldade em aplicar os conhecimentos do passado à compreensão do presente e ao planejamento do futuro. É preciso, pois, que o Espírito Santo, em seu divino estilo, lhe inspire a reta maneira de agir no momento oportuno e exatamente nos termos devidos.

Assim o dom do conselho aparece como um regente de orquestra que coordena divinamente todas as faculdades do cristão e as incita a uma atividade harmoniosa e equilibrada. Imagine-se com que circunspecção (cautela e audácia) um maestro rege os múltiplos instrumentos de sua orquestra: assinala a cada qual o momento preciso em que deve entrar e os matizes que deve dar à sua melodia. Assim faz o Espírito mediante o dom do conselho em cada cristão.

Diz a Escritura que há um tempo exato para cada atividade1;

fora desse momento preciso, o que é oportuno pode tornar-se inoportuno.

Ora nem sempre é fácil discernir se é oportuno falar ou calar, ficar ou partir, dizer Sim ou dizer Não. Nem as pessoas prudentes, após muito refletir, conseguem definir com segurança o que convém fazer. Ora é precisamente para superar tal dificuldade que o Espírito move o cristão mediante o dom do conselho.

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(1) Eis o texto de Ecl 3, 1-8:
“Todas as coisas têm o seu tempo, e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora.
Há tempo para nascer, e tempo para morrer.
Tempo para plantar, e tempo para arrancar o que se plantou.
Tempo para matar, e tempo para dar vida.
Tempo para destruir, e tempo para edificar.
Tempo para chorar, e tempo para rir.
Tempo para se afligir, e tempo para dançar.
Tempo para espalhar pedras, e tempo para as ajuntar.
Tempo para dar abraços, e tempo para se afastar deles.
Tempo para adquirir, e tempo para perder.
Tempo para guardar, e tempo para atirar fora.
Tempo para rasgar, e tempo para coser.
Tempo para calar, e tempo para falar.
Tempo para amar, e tempo para odiar.
Tempo para a guerra. e tempo para a paz”.


Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: O dom da sabedoria


O dom da sabedoria

Na ordem natural do conhecimento, a inteligência humana não se contenta com noções isoladas, mas procura reunir suas concepções numa síntese sistemática, de modo a concatená-las numa visão harmoniosa. A mente humana procura atingir os primeiros princípios e as causas supremas de toda a realidade que ela conhece.

Ora a mesma sistematização harmoniosa ocorre também na ordem sobrenatural. O dom da ciência e o entendimento já proporcionam uma penetração profunda no significado de cada criatura e de cada verdade revelada respectivamente; oferecem também uma certa síntese dos objetos contemplados, relacionando-os com o Supremo Senhor, que é Deus. Todavia o dom que, por excelência, efetua essa síntese harmoniosa e unitária, é o da sabedoria. Esta abrange todos os conhecimentos do cristão e os põe diretamente sob a luz de Deus, mostrando a grandeza do plano do Criador e a insondabilidade da vida daquele que é o Alfa e o Ômega de toda a criação.

Mais: o dom da sabedoria não realiza a síntese dos conhecimentos da fé em termos meramente intelectuais. Ele oferece um conhecimento sápido ou saboroso da verdade1 ...Saboroso ou deleitoso, porque se deriva da experiência do próprio Deus feita pelo cristão ou da afinidade que o cristão adquire com o Senhor pelo fato de mais a mais amar a Deus. Uma comparação ajudará a compreender tal proposição: para conhecer o sabor de uma laranja, posso consultar, intelectual e cientificamente, os tratados de Botânica; terei assim uma noção aproximada do que seja esse sabor. Mas a melhor via para conseguir o objetivo será, sem dúvida, a experiência da própria laranja que se faz pelo paladar. Os resultados do estudo meramente intelectual são frios e abstratos, ao passo que as vantagens da experiência são concretas e saborosas.

Ora, na verdade, os dons da ciência e do entendimento fazem-nos conhecer principalmente por via de amor ou de afinidade com Deus. Todavia é o dom da sabedoria que, por excelência, resulta dessa conaturalidade ou familiaridade com o Senhor. Ele se exerce na proporção da íntima união que o cristão tenha com o Senhor Deus. “O dom da sabedoria faz-nos ver com os olhos do Bem-amado”, dizia um grande místico; a partir da excelsa atalaia que é o próprio Deus, contemplamos todas as coisas quando usamos o dom da sabedoria.

Estas verdades dão a ver quanto nesta vida importa o amor de Deus. É este que propicia o conhecimento mais perspicaz e saboroso do mesmo Deus (o que não quer dizer que se possa menosprezar o estudo, pois, se o Criador nos deu a inteligência, foi para que a apliquemos à verdade por excelência, que é Deus). Aliás, observam muito a propósito os teólogos: veremos a Deus face-a-face por toda a eternidade na proporção do amor com que o tivermos amado nesta vida. O grau do nosso amor, na hora da morte, será o grau da nossa visão de Deus na vida eterna ou por todo o sempre. É por isto que se diz que o amor é o vínculo ou o remate da perfeição (cf. Cl 3, 14). “No ocaso de sua vida, cada um de nós será julgado na base do amor”, diz S. João da Cruz.

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(1) A palavra sabedoria vem do saber, derivado do verbo latino sapere, que significa “ter gosto de...” – O vocábulo português sabor se origina do latino sapor, que é da mesma raiz que sapere”.

Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Os sete dons do Espírito Santo: Entendimento ou inteligência


Entendimento ou inteligência

A palavra “inteligência” é, segundo alguns, derivada de intellegere = intuslegere, ler dentro, penetrar a fundo.

Na ordem natural, entendemos (intelligimus) quando captamos o âmago de alguma realidade. Na linha da fé, paralelamente entender é penetrar, ler no íntimo das verdades reveladas por Deus, é ter a intuição do seu significado profundo. Pelo dom do entendimento, o cristão contempla com mais lucidez o mistério da SS. Trindade, o amor do Redentor para com os homens, o significado da S. Eucaristia na vida cristã....

A penetração outorgada pelo dom da inteligência (ou do entendimento) difere daquela que o teólogo obtém mediante o estudo; esta é relativamente penosa e lenta; além do que, pode ser alcançada por quem tenha acume intelectual, mesmo que não possua grande amor. Ao contrário, o dom da inteligência é eficaz mesmo sem estudo; é dado aos pequeninos e ignorantes, desde que tenham grande amor a Deus.

Para ilustrá-lo, conta-se que um irmão leigo franciscano disse certa vez a S. Boaventura (+ 1274), o Doutor Seráfico: “Felizes vós, homens doutos, que podeis amar a Deus muito mais do que nós, os ignorantes!” Respondeu-lhe Boaventura: “ Não é a doutrina alcançada nos livros que mede o amor, uma pobre velha ignorante pode amar a Deus mais do que um grande teólogo, se estiver unida a Deus”. O irmão compreendeu a lição e saiu gritando pelas ruas: “Velhinha ignorante, você pode amar a Deus mais do que o mestre Frei Boaventura!”

O irmão dizia a verdade. Na ordem natural, é compreensível que o amor brote do conhecimento. Na ordem sobrenatural, porém, pode acontecer o inverso: é o amor que abre os olhos do conhecimento. Os que mais amam a Deus, são os que mais profundamente dissertam sobre Ele.

Como frutos do dom do entendimento, podemos enunciar as intuições das verdades da fé que são concedidas a muitos cristãos durante o seu retiro espiritual ou no decurso de uma leitura inspirada pelo amor a Deus. O “renascer da água e do Espírito", a imagem da videira e dos ramos, o “seguir a Cristo” tomam então clareza nova, apta a transformar a vida do cristão.

O dom do entendimento manifesta também o horror do pecado e a vastidão da miséria humana. Por mais paradoxal que pareça, é preciso observar que os santos, quanto mais se aproximaram de Deus (ou quanto mais foram santos), tanto mais tiveram consciência do seu pecado ou da sua distância daquele que é três vezes santo.

Em suma, o dom do entendimento faz ver melhor a santidade de Deus, a infinidade do seu amor, o significado dos seus apelos e também... a pobreza, não raro mesquinha, da criatura que se compraz em si mesma, em vez de aderir corajosamente ao Criador.

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Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Vida religiosa


Muitos estão sendo vencidos pelo medo de seguir, até o fim, o projeto de Jesus

“O hábito não faz o monge”, diz o provérbio, mas, sem dúvida, chama um pouco, ou muita, atenção. Talvez uma criança curiosa tenha nos incomodado com perguntas inocentes querendo saber: “Por que aquela pessoa estava vestida daquele jeito?” Claro que podemos sair da pergunta com uma resposta curta e grossa: “É uma freira” ou “É um frei”. E se a criança insistir, querendo saber mais, saberíamos responder à altura e com gosto? Ou nos esconderíamos atrás do banal “deixa pra lá”, equivalente a não saber ou ao não querer responder?

Tenho certeza: digam o que quiserem, finjam não ver, ignorem a presença deles e delas, mas os religiosos e as religiosas chamam atenção. Não porque queiram isso. Mas - ou por usarem o hábito ou pelo jeito - obrigam-nos a perguntar por que eles e elas escolheram aquela forma de viver. Por quê?

Insisto sobre os questionamentos pelo fato de a vida religiosa também ter mudado. A freira que anda pelas casas do bairro pobre é formada em Pedagogia e está estudando Ciências Sociais. O monge, que abre a porta do convento e acolhe os mendigos é mestre em Letras pela PUC de São Paulo. O frei que anda de bicicleta, evitando os buracos e a lama da periferia, é advogado. A irmãzinha que cuida da creche é enfermeira diplomada e continua estudando Medicina de noite. O irmão que está no acampamento dos sem-terra é doutor em Teologia. E assim poderíamos continuar.

Quem tem uma imagem dos irmãos e das irmãs como de “coitadinhos” meio perdidos e fora do tempo está muito enganado. Não somente porque eles e elas, hoje, estudam mais, mas porque continuam sabendo muito bem o que querem. Eles têm um grande projeto de vida. Querem ser felizes vivendo o Evangelho. Querem contribuir com a sociedade de hoje seguindo as pegadas de Jesus Cristo.

Se a vida religiosa podia parecer, no passado, um refúgio para ter uma “certa” tranqüilidade, ou uma fuga por medo das coisas perigosas do mundo, hoje é exatamente o contrário. Vida religiosa não é para pessoas fracas. É cada vez mais exigente. Dizem que o celibato para o Reino de Deus e a virgindade consagrada são coisas para sexualmente frustrados. A pobreza é considerada excesso de loucura e inaptidão administrativa. A obediência, uma inútil inibição dos projetos pessoais, uma afronta à liberdade individual. Essas coisas são bobagens, claro, mas só para os acomodados, os que ficam alucinados e iludidos pelas coisas do mundo, para os que adoram encontrar defeitos nos outros e só sabem criticar. Por isso, a vida religiosa sempre será questionada e sempre chamará atenção. O caminho é difícil e a porta estreita. É preciso empurrá-la para entrar, não é para todos.

Se não entendemos tudo isso, ou não sabemos responder bem às perguntas acima, tenhamos ao menos o bom senso de não falar à toa e, quem sabe, aprendamos a agradecer a essas pessoas, que pagam com a própria vida as suas escolhas. Se não fosse assim, a Irmã Dorothy Stang não teria morrido. O padre Bossi, do PIME, não teria sido seqüestrado lá nas Filipinas. Os religiosos e as religiosas podem ter muitos defeitos, como todos, mas não são nem bobos nem ingênuos.

A chamada crise da vida religiosa pode ser pela quantidade; mas com certeza não o é pela qualidade. Talvez aos jovens, hoje, falte coragem. Estão sendo vencidos pelo medo de seguir, até o fim, o projeto de Jesus. Sentem medo de parecer diferentes ou de incomodar aos outros; de começar a mudar a história, mudando a própria vida. Por isso Jesus repetiu tantas vezes aos discípulos: não tenham medo… E o repete ainda em nossos dias. Para nós todos.

Dom Pedro José Conti
Bispo de Macapá

Publicado no Portal da Canção Nova

Os sete dons do Espírito Santo: Ciência


Ciência

A ciência humana perscruta o universo e seus fenômenos, procurando as causas imediatas destes e concatenando-as entre si para ter uma explicação mais ou menos clara da realidade.

Ora o dom da ciência, embora não defina a natureza e as propriedades físicas ou químicas de cada criatura, faz que o cristão penetre na realidade deste mundo sob a luz de Deus, vê cada criatura como reflexo da sabedoria do Criador e como aceno ao Supremo Bem.

Mais: o dom da ciência leva o homem a compreender, de um lado, o vestígio de Deus que há em cada ser criado, e, de outro lado, a exigüidade ou insuficiência de cada qual.

Vestígio de Deus... São Francisco de Assis soube ouvir e proclamar o canto das criaturas ao Senhor. As flores, as aves, a água, o fogo, o sol... tudo lhe era ocasião de contemplar e amar a Deus.

Exigüidade... Toda criatura, por mais bela que seja, é sempre limitada e insuficiente para o coração humano. Este foi feito para o Bem infinito e só neste pode repousar. Percebendo isto após uma vida leviana, muitos homens e mulheres se converterem radicalmente a Deus. Tal foi o caso de S. Francisco Borja (+ 1572), que ao contemplar o cadáver da rainha Isabel, exclamou: "Não voltarei a servir a um senhor que possa morrer!" Tal foi outrossim o caso de S. Silvestre (+ 1267)... Estes cometeram a "loucura" de tudo deixar a fim de possuir mais plenamente uma só coisa: o Reino de Deus ou a presença do próprio Deus.

O dom da ciência ensina também a reconhecer melhor o significado do sofrimento e das humilhações; estes “contra-valores”, no plano de Deus, têm o valor de escola que liberta e purifica o homem. Configuram o cristão a Jesus Cristo, concedendo-lhe um penhor de participação na glória do próprio Senhor Jesus. Se não fora o sofrimento, muitos e muitos homens não sairiam de sua estatura anã e mesquinha,... nunca atingiriam a plenitude do seu desenvolvimento espiritual.

São estes alguns dos frutos do dom da ciência.

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Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A vocação da família

A Igreja Católica celebra no Brasil, nestes dias, a Semana Nacional da Família. A proposta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é, nestes dias, refletir sobre a importância desta que é uma das instituições responsáveis pelo crescimento do homem e sua elevação até Deus; aliás, uma das primeiras instituições, quando o Criador viu que o homem se encontrava só e deu-lhe uma companheira – de sua própria natureza – a mulher. Na seqüência da narrativa dos Livros Sagrados, vemos a constituição da primeira família, com todas as suas diferenças, limitações e busca contínua de um desenvolvimento mútuo, norteados pelos princípios que, no caminhar da humanidade, vão se tornando sempre mais nítidos, conformes à necessidade de cada tempo.


Observe-se que, desde em que foram delimitados o bem e o mal, existe uma forte tentativa de corromper tudo o que é divino. A serpente maligna, que no Éden seduziu aquela que se tornou mãe de todos os viventes, desde lá se arrasta pelo mundo sobre o seu ventre, alimentando-se do pó do qual o homem foi criado, disseminando a divisão e a confusão entre as pessoas. O alvo de seu desafeto é ainda o mesmo: o homem, por conseguinte, a família.

Por isso, a Igreja propõe estes dias em que, na meditação de um tema específico, à luz do Evangelho e do Magistério Eclesiástico, busca-se melhor discernimento dos problemas que afetam a família em nosso tempo, enquanto se definem os meios e os potenciais de cada membro dessa instituição que, juntos, trabalham-se numa caminhada em busca da satisfação em Nosso Senhor.

Mesmo parecendo uma sugestão quimérica, afetados por conceitos racionalistas em voga, a solução para os problemas da família estão, indiscutivelmente, nas Sagradas Escrituras e na Doutrina da Igreja, sob os quais deve estar, antes, toda jurisprudência pertinente aos casos que afetam direta e indiretamente a família.

Muito oportuno foi o tema da Semana Nacional da Família deste ano: “Escolhe, pois, a vida”. E sugiro, inclusive, que se faça a sugestiva leitura dos versículos 19 e 20 do capítulo 30 do Deuteronômio, de onde se tirou esta proposta – ainda dentro do espírito da Campanha da Fraternidade deste ano. “Ponho diante de ti a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas com a tua posteridade, amando o Senhor, teu Deus, obedecendo à sua voz e permanecendo unido a ele. Porque é esta a tua vida e a longevidade dos teus dias na terra que o Senhor jurou dar a Abraão, Isaac e Jacó, teus pais”. Nesta reflexão deparamo-nos, então, com o livre arbítrio, a vocação e a missão do homem, no contexto desta comemoração à família.

O livre arbítrio é a escolha espontânea de cada um em fazer isso ou aquilo, é a opção pelo bem ou pelo mal. Decorrem-se daí, todavia, as conseqüências, pelas quais somos os responsáveis. E para ilustrar esta situação na realidade da família, temos inúmeros casos, situações diversas que a envolvem e, infelizmente, muitas delas temos sentido como uma busca fremente para desestruturá-la, como a facilidade com que se legalizam as dissoluções matrimoniais, a pressão científica sobre questões bioéticas, a liberação do aborto, a propagação do amor livre, a leviandade com que relativizam as fragilidades da natureza humana, querendo institucionalizá-las a todo custo, enquanto na verdade procuram oficializá-las como instituição, mesmo sendo impossível de se afirmar como um modo de vida, um meio de santificação, por sintetizarem tão somente a copulação do erotismo e o prazer; além de outros tantos fatores a corromperem a família. Entre estes destacam-se, ainda, os meios de comunicação, na maioria das vezes, invasores de nossas casas com todo o tipo de deformação das crianças e jovens, confundindo, também, os adultos menos esclarecidos.

Mas devemos estar atentos que, como nos ensina o Catecismo da Igreja, “não há verdadeira liberdade senão no serviço do bem e da justiça. A opção pela desobediência e pelo mal é um abuso da liberdade e conduz à escravidão do pecado” (1733). A desordem gera a desobediência, a desobediência gera o pecado, o pecado clama o castigo. E a cada vez que nos deparamos com os mais horrendos episódios, em todas as áreas, indistintamente, na ciência e na política, na sociedade e na Igreja, nos povos e na família, é Deus permitindo que o homem coma do fruto que custou o seu suor, o fruto sazonado e o fruto apodrecido.

É quando nos deparamos com o sentido com que se nos apresenta a vocação, ou melhor, é a linguagem que traduz aos nossos sentidos o chamado de Deus. O primeiro chamado é à vida; somos vocacionados a viver neste mundo nutrindo-nos da sabedoria de Deus que nos concede os ensinamentos que, por seu amor, nos são ditados pela sua Palavra e pela Tradição. Temos, assim, um direcionamento para nossos atos, que terão primordial influência em nosso livre arbítrio, ressalta-se. Por isso, a escolha, primeiro, à vida.

O chamado específico a cada um é muito mais do que um sentir-se atraído. É, numa melhor expressão, como que uma imposição íntima que nos impele, diria até que seja um instinto, a fazer o bem e se entregar a um específico trabalho, com desprendimento, com dedicação, com a reta intenção de fazê-lo tão somente por amor de Deus e pelo próximo.

Entenderemos a vocação dos que se entregam à vida religiosa, contemplativa e de ação pastoral, que se dedica à comunidade e, principalmente, dos que têm vocação para a família, para se dedicar à formação desta que a primorosa Constituição Dogmática do Sacrossanto Concílio Vaticano II “Lumen Gentium” definiu como Igreja Doméstica, “na qual nascem novos cidadãos da sociedade humana os quais, para perpetuar o Povo de Deus através dos tempos, se tornam filhos de Deus pela graça do Espírito Santo, no Batismo. Na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada” (LG 11).

Exemplo – é uma palavra importante neste contexto. Os pais são o direcionamento seguro que os filhos devem ter. Em grande parte, os flagelos da família são conseqüentes de constituições matrimoniais imaturas ou, pior ainda, desajustadas. Aqueles que avançam no processo de conhecimento um do outro, o namoro, ou que resistem aos breves encontros de formação que nossas comunidades paroquiais promovem em preparação ao casamento, perdem uma oportunidade de se conhecerem melhor, a partir do aprofundamento de si mesmo, identificando suas virtudes e compreendendo suas limitações, para daí saber compartilhar sua vida, de maneira sadia, com outra pessoa, que deverá também conhecê-la bem em todos os aspectos. É o processo de formação. Se para se obter um grau de conhecimento depende de exaustivos estudos; se para alcançar um nível mais elevado de resistência física necessita-se de uma ingente dedicação e persistência; que se dirá da preparação para uma responsabilidade grandiosa, cujo componente primeiro deve ser o amor?

A vocação é fruto do amor de Deus por nós, que nos quer mais próximos dEle por meio de uma atividade que o engrandecerá, beneficiando quem foi feito à sua imagem e semelhança.

À vocação – ao chamado – sucede a missão. Somos chamados à vida e nossa missão é nos santificarmos no estado em que nos encontramos, seja na profissão religiosa, seja na opção pelo matrimônio, ou apenas pelo celibato, mas em cada uma destas temos os meios necessários e as exigências que devemos cumprir para nos santificarmos: “Sede santos, porque Eu sou santo” (Lev 11,44). A propósito, por ocasião da beatificação de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus, João Paulo II destacou que “a santidade é a prova mais clara, mais convincente da vitalidade da Igreja, em todos os tempos e em todos os lugares” ( L´Osservatore Romano, n°44,3/1/91). Algum tempo depois, o saudoso Papa asseverou aos catequistas que “a santidade é a forma mais poderosa para levar Cristo aos corações dos homens” (idem, n°24, 14/06/92, pág, 22).

Muito oportuna esta colocação neste contexto, visto serem os pais os primeiros catequistas dos filhos. São eles quem deve encaminhá-los, primeiro, à Religião. Por isso podemos concluir que, se o mundo se entrega hoje a um renascimento do paganismo, é porque os pais foram omissos em sua missão de formar novos cristãos. Se há poucos santos no mundo, é porque existem poucas famílias santas. Se se proliferam famílias desestruturadas, é porque são frutos de casamentos que não se fundamentaram na formação cristã, na fé e na confiança em Deus. São Vicente dizia que “é possível restaurar as instituições com a santidade, e não, restaurar a santidade com as instituições”. Portanto, só teremos famílias santas se, antes, estas formarem santos que a santifiquem.

São estes, pois, os aspectos que desejamos nossos amados irmãos e irmãs, de nossa Arquidiocese de Juiz de Fora, meditassem ao longo deste mês de agosto. A vocação de cada um em consonância com a vocação de todos na Igreja na preservação e na defesa da vida. Para isso, é imprescindível a entrega à vontade de Deus, a disponibilidade para que a graça do Espírito de Amor infunda em cada um o ímpeto para desempenhar, com prontidão e ardor, a missão decorrente do chamado. Peçamos a intercessão de Nossa Senhora da Assunção e de São José, cuja casa de Nazaré será sempre o modelo primeiro para nossas famílias, onde o respeito, a prudência e a caridade devem reinar para que, no seio de nossas igrejas domésticas, a graça de Deus opere maravilhas e, impelidos pelo desejo de querer se entregar à expansão do Reinado de Cristo em nossas famílias.

DOM EURICO DOS SANTOS VELOSO
ARCEBISPO METROPOLITANO DE JUIZ DE FORA, MG.

Publicado no Portal A Catequese Católica

Os sete dons do Espírito Santo

Caríssimos,

A Igreja Católica dedica o mês de agosto aos vacacionados. E por intercessão do Espírito Santo, a reunião de ontem do Círculo Verde debateu os dons do Espírito Santo, casando com o propósito da igreja para o mês de agosto.

Canvidamos então os leitores do Blog do Círculo Verde a estudarem conosco os sete dons do Espírito Santo, e descobrirem o seu dom, sua vocação. A cada dia publicaremos um breve artigo de D. Estevão Bettencourt, extraído da Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”, da Editora Cleofas. Iniciamos hoje com uma explicação do que são os dons do Espírito Santo.

Forte abraço, e que Deus nos ilumine nesse estudo.

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OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

Em síntese: Os dons do Espírito Santo são como “receptores” aptos a captar os impulsos do Espírito mediante os quais o cristão se encaminha para a perfeição em estilo novo ou com a eficácia que o próprio Deus lhe confere. Possibilitam ao cristão ter a intuição profunda do significado das verdades reveladas por Deus assim como de cada criatura. Proporcionam também tomadas de atitude que nem a razão natural nem as virtudes humanas, sujeitas sempre a hesitações e falhas, conseguiriam indicar ou efetivar.

Para ilustrar o que são os dons, pode-se recorrer à imagem de um barco que navega: se é movido a remos, avança lenta e penosamente, com grande esforço para os remadores. Caso, porém, estes desdobram as velas do barco para que capte o sopro dos ventos favoráveis, os remadores descansam e o barco progride em estilo novo segundo velocidade “sobre-humana”. - Ora o barco movido ao sopro do vento que bate contra as velas, é imagem do cristão impelido pelo Espírito, segundo medidas divinas, para a meta da sua santificação.

Os dons do Espírito Santo são sete, segundo a habitual recensão dos teólogos: sabedoria, entendimento, ciência, conselho, fortaleza, piedade, temor de Deus. Para se beneficiar da ação do Espírito Santo, o cristão deve dispor-se de duas maneiras principais: a) cultivando o amor, pois é o amor que propicia afinidade com Deus e, por conseguinte, torna o cristão apto a ser movido pelo Espírito de Deus; b) procurando jamais dizer um Não consciente e voluntário às inspirações do Espírito. Quem se acostuma a viver assim, cresce mais velozmente na sua estatura definitiva e se configura mais fielmente ao Cristo Jesus.

* * *

Em nossos dias a renovação da oração e da espiritualidade cristãs apela freqüentemente para a ação do Espírito Santo nos corações. Muitos fiéis se tornam conscientes de que “ninguém pode dizer “Jesus Cristo é o Senhor” senão sob a moção do Espírito Santo” (cf. 1Cor 12, 3), sabem cada vez mais que “todos os que são movidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus" (cf. Rm 8, 14). A consciência destas verdades vem despertando cada vez mais a atenção para a teologia espiritual. É, pois, oportuno procurarmos conhecer melhor as maneiras como o Espírito Santo age nos corações, descrevendo os seus dons e o significado destes na vida dos filhos de Deus.

1. Que são os dons do Espírito Santo?

1. Do inicio, é preciso propor a distinção que a Teologia costuma fazer entre dons e carismas (embora a palavra charisma em grego significa dom).

Por carismas entendem-se graças especiais pelas quais o Espírito Santo torna os cristãos aptos a tarefas e funções que contribuem para o bem ou o serviço da comunidade: assim seriam o dom de profecia, o das curas, o das línguas, o da interpretação das línguas... Os carismas têm por vezes (não sempre) índole extraordinária, como no caso de certas curas ou da glossolalia.

Por dons compreendem-se faculdades outorgadas ao cristão para seguir mais seguramente os impulsos do Espírito no caminho da perfeição espiritual. Os dons e seus efeitos são discretos, não chamando a atenção do público por façanhas portentosas.

2. Para entender melhor o que sejam os dons do Espírito, recorramos a uma analogia:

Quando uma criança nasce para a vida presente, é dotada por Deus de tudo que é necessário à sua existência humana: recebe, sim, um organismo completo e uma alma portadora de faculdades típicas do ser humano. Como se compreende, esse conjunto ainda não esta plenamente desenvolvido quando o bebê vem ao mundo, mas é certo que a criança possui tudo que constitui a pessoa humana.

Ora algo de análogo se dá na vida espiritual. Diz-nos Jesus que renascemos da água e do Espírito Santo pelo batismo (cf. Jo 3, 5). Este renascer importa receber uma vida nova, a vida dos filhos de Deus, trazida pela graça santificante. Essa vida nova tem suas faculdades próprias, que são:

1) as virtudes infusas

a) teologais (fé, esperança, caridade): virtudes que nos põem em contato imediato com Deus;

b) morais (prudência, justiça, temperança, fortaleza): virtudes que orientam o comportamento do cristão frente aos valores deste mundo;

2) os dons do Espírito Santo, "receptáculos" próprios para captar as moções do Espírito Santo.

Importa salientar bem a diferença entre as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo.

As virtudes infusas são ditas infusas porque não adquiridas pelo homem. São princípios de reta outorgados ao cristão juntamente com a graça santificante, para que se comporte não apenas como ser racional, mas como filho da Deus, elevado a ordem sobrenatural1. Os critérios de conduta do cristão são as grandes verdades da fé ou da ordem sobrenatural (que nem sempre coincidem com os da razão); por isto é que, ao renascer como filho de Deus, todo homem recebe os respectivos princípios de conduta nova, que são as virtudes infusas. Destas, três se orientam diretamente para Deus (a fé, a esperança e a caridade) e quatro se orientam para o reto uso dos bens deste mundo (prudência, justiça, temperança, fortaleza). Quando o cristão age mediante as virtudes infusas, é ele mesmo quem age segundo moldes humanos, limitados, lutando contra os obstáculos que geralmente a prática do bem encontra; de maneira lenta e trabalhosa o cristão cresce na fé, na caridade, na temperança, na fortaleza..., estando sempre sujeito a contradizer-se ou a cometer um ato incoerente com tais virtudes.

É sobre este fundo de cena que se devem entender os dons do Espírito Santo. Estes podem ser comparados a faculdades novas ou “antenas” que nos permitem apreender moções do Espírito Santo em virtude das quais agimos segundo um estilo novo, certeiro, firme, sem hesitação alguma e com toda a clarividência. Esta afirmação pode-se tornar mais clara mediante algumas comparações:

a) Imaginemos um barco que navega a remos... Adianta-se lentamente e com grande esforço e fadiga por parte dos remadores. Caso, porém, este barco tenha velas dobradas, admitamos que os remadores resolvam desdobrá-las, a fim de captar o vento que lhes é favorável. Em conseqüência, os marujos deixarão de remar, e o mesmo barco será movido a velocidade “sobre-humana”, de maneira nova a muito mais veloz do que quando movido a remos.

Ora o "mover-se a remos" corresponde ao esforço humano (sempre prevenido pela graça) para progredir na prática do bem mediante as virtudes infusas. O “deixar-se mover pelo vento que bate nas velas desdobradas", corresponde ao progresso provocado pela ação direta do Espírito Santo, que move os seus dons (= velas) em nós; progredimos então muito mais rapidamente segundo um estilo novo.

b) Eis outra comparação: admitamos um pintor genial que se dispõe a realizar uma obra-mestra. Para iniciar, ele confia aos discípulos mais adiantados o trabalho de preparar a tela, combinar as cores e esquematizar o quadro. Quando tudo está preparado e começa a parte mais importante da obra, o próprio mestre traça as linhas finíssimas de sua obra, revelando o seu gênio e cristalizando a sua inspiração. - De maneira análoga, o Espírito traça no íntimo de cada cristão a imagem do Cristo Jesus. Os inícios desta tarefa, Ele os realiza mediante a nossa colaboração, permitindo-nos agir segundo os nossos moldes humanos (ou mediante as virtudes infusas). Quando, porém, se trata dos traços mais típicos do Cristo na alma humana, o próprio Espírito assume a tarefa da os delinear utilizando instrumentos especialmente finos a preciosos, que são seis dons.

Exemplificando, diremos: o homem prudente que, para a orientação de seus atos, só dispusesse de suas qualidades naturais e da virtude infusa da prudência, acertaria realmente, mas com grande lentidão, depois de várias tentativas. A prudência humana é insegura e tímida, mesmo quando acerta. - Ao contrário, quem age sob o influxo do dom do conselho, que corresponde à virtude da prudência, descobre de maneira rápida, certeira e firme o que deve fazer em cada caso.

Eis outro exemplo: quando o cristão se eleva, pela luz da fé, ao conhecimento de Deus, ele o faz de maneira imperfeita e laboriosa, recorrendo a imagens que são, ao mesmo tempo, claras e obscuras. - Dado, porém, que o cristão seja movido pelo Espírito mediante os dons de sabedoria e inteligência, ele contempla Deus e seu plano salvífico numa lúcida concatenação de idéias em poucos instantes e com grande sabor espiritual (em vez dos esforços exigidos pela virtude da fé).

As normas das virtudes são diferentes das normas dos dons. Quem age sob o influxo das virtudes, segue a norma do homem iluminado pela luz de Deus. Mas quem age sob o influxo dos dons do Espírito, segue a norma do próprio Deus participada ao homem.

3. Note-se que os dons do Espírito não são privilégio dos santos. Todos os cristãos os recebem no Batismo. Nem são necessários apenas às grandes obras, mas tornam-se indispensáveis à santificação do cristão mesmo na vida cotidiana.

O cristão pode permitir cada vez mais a ação do Espírito Santo em sua vida mediante os dons, caso se dedique especialmente ao cultivo das virtudes (principalmente da caridade) e se torne mais e mais dócil às inspirações do Espírito Santo. A prática do amor é importante, pois é o amor que nos comunica particular afinidade com Deus, adaptando-nos ao modo de agir do próprio Deus.

Procuramos agora penetrar no sentido próprio de cada um dos dons do Espírito.

2. Os dons em particular

A Tradição cristã costuma enunciar sete dons do Espírito, baseando-se no texto de Is 11,1-3 traduzido para o grego na versão dos LXX:

"(1)Brotará uma vara do tronco de Jessé
E um rebento germinará das suas raízes.
(2)E repousará sobre ele o espírito do Senhor:
Espírito de sabedoria e entendimento,
Conselho e fortaleza,
Ciência e temor de Deus,
(3)Piedade..."


O texto original hebraico, em lugar de piedade, dá a ler; "Sua inspiração estará no temor do Senhor". Enumerando seis ou sete dons do Espírito, o texto bíblico não tenciona esgotar a realidade dos mesmos: estes são tantos quantos se fazem necessários para que o Espírito leve o cristão à perfeição definitiva. Os sete dons enumerados pelo texto dos LXX e pela Tradição vêm a ser, sem dúvida, os principais. Distingamo-los de acordo com a faculdade humana em que cada qual se situa:

Intelecto: ciência, entendimento, sabedoria, conselho.

Vontade: piedade.

Apetite irascível: fortaleza.

Apetite de cobiça: temor de Deus.

Passemos agora à análise de cada qual de per si.



______________________________
(1) Sobrenatural não quer dizer portentoso ou maravilhoso, mas designa o que ultrapassa as exigências de qualquer natureza criada,... o que é dado gratuitamente por Deus. É sobrenatural, portanto, a elevação do homem à filiação divina ou à comunhão de vida com o próprio Deus a fim de chegar à visão de Deus face-a-face.

Fonte: Revista “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Revista nº. 479, Ano 2002, Pág. 163.

domingo, 17 de agosto de 2008

Os furacões em nossas vidas


Precisamos perseverar, porque as paredes podem cair de novo

O Furacão Katrina foi uma das mais fortes tormentas tropicais que atingiu a região do Golfo americano. Com ventos de até 240 km por hora, o furacão deixou um rastro de mortes muito elevado e um prejuízo imenso para as seguradoras americanas devido à destruição dos lugares onde passou.

Desabamentos com inúmeras vítimas, pessoas ilhadas tentando fugir das águas são imagens que vão ficar gravadas em nossas mentes.

E os furacões que assolam as nossas vidas, os furacões das decepções, traições, calúnias, doenças graves na família, que conseqüências eles trazem à nossa alma, à nossa psique e até ao nosso físico? Uma imensa sensação de estar perdido, abandonado até por Deus, um imenso desânimo, uma dor lancinante de angústia no peito latejam diariamente sem cessar. Uma falta de esperança que tudo pode mudar e voltar a ter cor de novo são sintomas quando vivemos essas experiências dolorosas. A ausência de vontade de rezar é maior que tudo, mas a necessidade é estimulada pelas fortes dores na alma.

Correr para Deus, correr para Aquele que faz com que o furacão pare e rogar para a ressurreição chegar é essencial. A pedagogia divina não é paternalista, mas paternal, ela exige que nos levantemos, dando os passos para começar a reconstrução da alma e das outras áreas da nossa humanidade que estão destruídas ou bem danificadas.

E que passos são esses? O perdão renovado às pessoas que nos fizeram mal, demonstrado em atitudes de bondade para com elas.

Pequenas atitudes, um sorriso, um "como vai?", perguntar sobre o dia da pessoa, sobre o que é importante para ela.

Acredite que ser bom para as pessoas será excelente para nós. E parte daquilo que foi destruído pelo furacão começa a ser reconstruída lentamente.

Muitas vezes, vamos entrar no ciclo de relembrar as coisas ruins, mas precisamos pedir o Sangue de Jesus para lavar a nossa memória, as nossas lembranças.

Não podemos parar quando não somos correspondidos com amabilidade nas tentativas de reconstrução, pois o terreno depois de um furacão não é favorável para a implantação de um novo alicerce.

Precisamos perseverar, porque, muitas vezes, as paredes podem cair de novo, e precisamos recomeçar. E acredite: a cura para a reconstrução da alma, da psique e até do nosso corpo físico vem da oração e da atitude amável.

Você não está só! Deus o convida para reconstruir tudo com Ele.

Maria Elizabete S. Albuquerque

Publicado no Portal da Canção Nova

sábado, 16 de agosto de 2008

Agosto, mês vocacional


Quando Deus chama, Ele mesmo nos capacita

Vocação é um chamado do Senhor. É Deus quem chama e envia. A iniciativa é toda de Deus.

“Não fostes vós que me escolhestes mas eu vos escolhi e vos designei para que vades e produzais frutos e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16).

Deus quando chama, Ele leva em conta toda a sua pessoa, a começar pelo nome, passando pela sua família e pela sua história. Nada fica de lado em sua vida.

Quando Deus chama, Ele mesmo o capacita para aquilo para o qual está o chamando. Por isso, não precisamos ter medo porque a iniciativa é toda do Senhor. A nossa parte é responder dizendo “sim” e nos colocando inteiramente à disposição d’Aquele que nos chama.

A vocação afeta a pessoa no mais profundo do seu íntimo e quando somos afetados por esse chamado não temos como dizer “não”; a nossa resposta sempre será “sim”!

"Deixei-me seduzir..."

Todos nós fomos escolhidos, chamados por Deus para uma missão. A Palavra diz que Jesus subiu ao monte e chamou os que Ele quis e os designou e os preparou para uma missão específica, a de levar a Sua Palavra por todo o mundo (cf. Mc 3, 13-19). Mas Deus não nos chama só para isso. Há lugar para todos em Seu Reino. Existem os que pregam, os que se dedicam somente às famílias, os que defendem a pátria. Enfim, é infinita a missão de Deus. O Senhor conta com corações abertos para colaborar com Ele nessa linda companhia.

Qual é a sua missão? A que você é chamado hoje? Não diga que aquilo que faz hoje não é um chamado; não é uma missão! Não diga que você não é capaz; porque quem nos capacita é Deus. O chamado foi um presente d’Ele aos discípulos e na Palavra não está escrito que eles estavam capacitados para a missão que iriam receber. Ao contrário, todos corriam o risco de fracassar, de não dar conta; mas, o segredo está em confiar e se abandonar nas mãos d’Aquele que chama, capacita e envia. Quem é chamado recebe a autoridade espiritual e o conforto da presença constante do Senhor.

Creia! Você também foi escolhido por Deus para uma missão e precisa investir nela. O Senhor o conhece e conhece a missão que escolheu para você, conhece seu potencial e também suas limitações. Não são as características pessoais de cada um que determinam a vocação, muito pelo contrário, o próprio profeta responde dessa forma: “Não sei falar, sou apenas uma criança...” (Jer 1, 6). Mas saiba: o Senhor não se importa se você tem potencial ou não, a partir do momento em que Ele nos chama, todo o potencial vem d’Ele.

Toda a graça da vocação de ser pai, de ser mãe, padre, missionário, freira, político, seja lá o que for, se é Deus quem chama toda a graça para executar a vocação vem d’Ele. Quem foi chamado só precisa responder a essa iniciativa amorosa de Deus, como Maria, que disse: “Eis-me aqui, faça-se a Tua Vontade”.

Ritinha

Publicado no portal da Canção Nova

domingo, 10 de agosto de 2008

Ser pai é ser reflexo do amor de Deus, que é Pai por excelência!

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Como é importante para a vida de uma pessoa a presença de um Pai. Jesus sabia disso e quis ter um, quando passou por esse mundo.

Infelizmente hoje a proporção de filhos que vivem sem a presença do pai é muito grande. A presença da mãe é fundamental para vida de uma criança, mas a presença do pai na vida de um filho tem um papel enorme na formação de sua personalidade.

O pai dá a criança uma sensação muito grande de proteção e segurança, além da formação pessoal do carater da responsabilidade. Quantos cresceram sem o pai e hoje tem em si sentimento grande de insegurança, medo e imaturidade.

Se a mãe morre aos poucos pelo filho de seu ventre, o pai por sua vez também. È uma doação, uma entrega diária.

Lembro-me de uma pequena histoŕia de um menino que não via seu pai durante toda semana. O pai trabalhava muito, chegava em casa muito tarde e saia muito cedo.Porém todas as noites o pai passava pelo quarto do menino, lhe beijava, e dava um nó no seu cobertor para lhe indicar que esteve ali naquela noite. No outro dia o filho sabia que o pai tinha estado ali e sentia-se amado por ele.

Essa é a diferença, não é a quantidade de tempo que gastamos com nossos filhos, mas a qualidade que damos ao tempo que temos com eles.

A familia sempre será nosso bem maior nessa terra! Aproveite cada momento desse tesouro precioso.

Comunidade Canção Nova

curitiba@cancaonova.com

Acesse nosso blog: blog.cancaonova/curitiba


sábado, 9 de agosto de 2008

Dom de Milagres

Seminário de Dons on line é a adaptação para a Internet de um encontro que geralmente dura de dois a três dias consecutivos, onde são tratados vários temas sobre os dons carismáticos do Espírito Santo, como o dom de línguas, discernimento, sabedoria, fé, cura, milagres, buscando uma experiência profunda do batismo no Espírito Santo.

Diácono Nelsinho Corrêa, consagrado da Comunidade Canção Nova, fala sobre o dom de milagres. Dom extarordinário, que mostra a intervenção de Deus em situações humanamente insolúveis.

Um ótimo ensinamento que mostra esse dom como sinal da misericórdia de Deus.
Que maravilha quando uma pessoa é curada miraculosamente!.

Com os testemunhos relatados pelo Diácono Nelsinho Corrêa, deixe o Espírito Santo reavivar esse dom em você.

"Jesus é o mesmo ontem, hoje e sempre!"







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sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Dom da Cura

Seminário de Dons on line é a adaptação para a Internet de um encontro que geralmente dura de dois a três dias consecutivos, onde são tratados vários temas sobre os dons carismáticos do Espírito Santo, como o dom de línguas, discernimento, sabedoria, fé, cura, milagres, buscando uma experiência profunda do batismo no Espírito Santo.

Hoje Eliana Ribeiro fala sobre o dom da cura.







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Zaqueu – A misericórdia entra em sua casa


José Ricardo F. Bezerra
Consagrado na Comunidade de Aliança Shalom

Tome o trecho sobre Zaqueu, narrado em Lc 19,1-10.

Seguindo os passos da Lectio, leia com atenção, várias vezes, se possível em voz alta ou à meia voz, o texto escolhido. Faça agora, em silêncio, uma leitura, meditando com a cena e as palavras colocadas. A partir daquilo que Deus lhe inspirou ou do que mais lhe tocou nesta meditação, faça sua oração de louvor, agradecimento, súplica ou intercessão, em resposta ao Senhor que lhe falou. Deixe-se, então, conduzir pelo Espírito Santo, para que Ele complete sua obra através da contemplação dos mistérios, da beleza e do amor de Deus.

Zaqueu era um homem rico e chefe dos publicanos de Jericó, isto é, dos coletores de impostos (cf. v.2). Por estas duas razões, Zaqueu pensava que o Mestre não se aproximaria dele ou que talvez o rejeitasse e o desprezasse como a maioria do povo devido à colaboração com os dominadores romanos. “Ele procurava ver quem era Jesus, mas não o conseguia por causa da multidão, pois era de baixa estatura” (v.3).

E você? Tem procurado “ver” Jesus? O que o está impedindo? Que “multidão” de afazeres, preocupações ou ídolos estão tapando-lhe a vista? Você reconhece sua limitação? Qual o tamanho do seu orgulho que lhe rebaixa a um ponto de não poder ver que o Senhor está vivo e age bem perto de você? “Correu então à frente, e subiu num sicômoro...” (v.4). Qual a sua disposição para vencer os obstáculos, correr e se lançar na vontade de Deus? “Zaqueu, desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa” (v.5).

Coloque-se no lugar dele e ouça Jesus lhe dizer: “Filho(a), desce depressa, pois hoje devo ficar em tua casa”. Foi Jesus quem escolheu ficar e entrar na casa de Zaqueu e escolheu também entrar e ficar na sua casa. Você aceita? “A vista do acontecido, todos murmuravam: Foi hospedar-se na casa de um pecador” (v.7). Deus lhe revelou algum preconceito? Você seleciona quem você acha que se salva ou pode receber Jesus? “Senhor, eis que dou a metade de meus bens aos pobres e se defraudei a alguém, restituo-lhe o quádruplo” (v.8). Como está sua generosidade para com os pobres e com o Reino? Hoje a salvação entrou nesta casa...”. Faça outra oração permitindo Jesus (seu nome é salvação) entrar em sua vida. Abra seu coração para a misericórdia do Senhor que deseja habitar, conviver, fazer morada em seu dia-a-dia. Contemple a “habitação de Deus” que é sua alma! Você inserido na Trindade e a Trindade em você!...

Anote e partilhe no seu grupo ou comunidade o que mais Deus realizou em você através desta Lectio. Escreva também para nós da Revista Shalom Maná. Deus o abençoe! Shalom!

Publicado no Portal da Comunidade Católica Shalom

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Dom da Profecia

Seminário de Dons on line é a adaptação para a Internet de um encontro que geralmente dura de dois a três dias consecutivos, onde são tratados vários temas sobre os dons carismáticos do Espírito Santo, como o dom de línguas, discernimento, sabedoria, fé, cura, milagres, buscando uma experiência profunda do batismo no Espírito Santo.

Hoje Sidney Teles fala sobre o dom da profecia.







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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Dom da Fé

Seminário de Dons on line é a adaptação para a Internet de um encontro que geralmente dura de dois a três dias consecutivos, onde são tratados vários temas sobre os dons carismáticos do Espírito Santo, como o dom de línguas, discernimento, sabedoria, fé, cura, milagres, buscando uma experiência profunda do batismo no Espírito Santo.

Hoje Márcio Mendes fala sobre o dom da fé.







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Escolher entre o bem e o Bem


Para ser feliz é preciso saber romper com os apegos

Em nossa vida nos encontramos diante de muitas situações nas quais percebemos a fragilidade de nossa vontade em relação a coisas e situações que nos fazem mal. São Paulo nos lembra que a tendência ao mal, que de certa forma reside em nós, a qual chamada por ele de “concupiscência”, é enganadora (cf. Gl 4,22).

Muitos filósofos já afirmaram (e como muita propriedade) que ninguém escolhe o mal, que as escolhas que fazemos sempre têm em vista o bem. Nosso problema é que nem sempre o bem é bem visto, ou seja, o problema não está em escolher o bem, mas em escolher de forma certa, escolher de forma justa. Nossa geração é marcada por grande fragilidade na vontade, mudamos de idéia com muita freqüência, a falta de determinação gera o risco de escolhas que possuem data de validade curta, o que cria uma preocupação: “Será que existe bem que perdure?” Não é minha intenção aqui estabelecer critérios para o bem e sim falar da escolha.

A escolha entre o bem e mal é questão apenas de inteligência, nos lembra Santo Inácio de Loyola, por isso que escolher entre o bem e o mal é questão apenas de sobrevivência. Quem escolhe o mal morre, como nos lembra São Paulo ao dizer que o salário do pecado é a morte (cf. Rm 6,23). Mas a vida não está simplesmente na escolha do bem. É preciso saber que nem todo bem nos faz bem, nem todo bem faz bem a todos. Isso é o discernimento, é preciso saber escolher entre o bem e o bem devido. Se olhamos, por exemplo, o açúcar, ele é um bem, é bom, mas não faz bem a quem é diabético, nem a quem se recupera de cirurgias, etc. Ou seja, nem todo o bem nos faz bem o tempo todo.

Escolher entre o bem e o bem devido é questão de sabedoria. Para ser feliz é preciso saber romper com o apego às coisas que são incompatíveis com nossa vida. Essa é a vontade de Deus! Quando Jesus fala do Reino de Deus como um tesouro (cf. Mt 13,44), mostra que o homem que encontrou o tesouro num campo vai e vende tudo o que tem para comprá-lo [campo], já que o tesouro não é possível comprar. Se vendeu tudo que tinha é sinal de que deixou tudo que tinha de valor, e que naturalmente era bom, para possuir um bem que lhe faz mais bem: o Reino de Deus. Precisamos amadurecer para as escolhas mais difíceis como essa, escolher entre tudo que é bom e encontrar a vontade de Deus, o bem que nos é devido. Acertar nessa escolha é questão de realização.

Que Deus lhe dê a sabedoria, muita sabedoria em suas escolhas! Sugiro a leitura de Sabedoria 9, 1-6.9-11, a oração de Salomão que agradou a Deus.

Pe. Xavier

Publicado no blog Padre Xavier