"Quem já descobriu a Cristo deve levar Ele aos outros. Esta alegria não se pode conter em si mesmo. Deve ser compartilhada." (Papa Bento XVI)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Campanha da Fraternidade e Quaresma: O equilíbrio está no centro…


Caríssimos, hoje ainda eu publiquei algumas notícias em relação ao Santo Padre, tanto no que diz respeito a Quaresma, como no que diz respeito a Campanha da Fraternidade. Ainda postei dois livros que no meu entender, podem ajudar você a viver com mais intensidade tanto uma coisa como a outra.

Porém gostaria de fazer um breve comentário aqui no blog, a respeito desse tempo que estamos vivendo que no meu entender é um tempo de graça, e de graça abundante.

A Quaresma é um tempo litúrgico que vivemos e que antecede a Páscoa do Senhor. É um tempo vivido por toda a Igreja Católica. Nesse tempo somos chamados a viver a conversão pessoal, moldando nossas vidas à vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Em todo mundo, os católicos vivem (ao menos deveriam viver) intensamente esse tempo.

Aqui no Brasil, nós vivemos uma graça enorme: A Campanha da Fraternidade. A cada ano, a CNBB promove um tema, para ser discutido, debatido e para gerar em nós uma conscientização dos pecados sociais que cometemos. Esse ano o tema é Fraternidade e Segurança Pública e o lema A paz é fruto da justiça. A Campanha da Fraternidade é uma espécie de gesto concreto, onde os católicos podem fazer algo melhor pelo povo brasileiro. Embora seja feita apenas aqui no Brasil, ela é admirada no mundo inteiro.

Porém o que quero dizer a você é algo que um amigo dizia até de forma engraçada, mas que se aplica muito bem aqui: Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa! Não podemos viver a Quaresma ignorando a Campanha da Fraternidade, nem tampouco viver a Campanha da Fraternidade, esquecendo-se que estamos nesse tempo litúrgico. Quando eu estava na minha paróquia, ouvia sempre alguém reclamando a respeito disso. Uns reclamavam porque só se cantava cantos da Campanha da Fraternidade. Outros porque ao invés de reuniões para debater o tema, “perdia-se tempo” rezando o rosário ou a via sacra. Na verdade ambas as reclamações são infundadas. É possível viver bem as duas coisas. Nas missas pode-se cantar cantos da Campanha e também cantos litúrigos do tempo Quaresmal (que aliás são belíssimos!). Pode-se promover atos concretos nas paróquias em relação a Campanha da Fraternidade e também momentos de oração…

A Quaresma gera em nós uma conversão pessoal, através dos nossos atos de piedade, da confissão, da esmola, do jejum… A Campanha da Fraternidade gerá em nós uma conversão social, fazendo com que percebamos aquilo que fere o nosso povo e fazendo com que possamos mudar atos em nós que tenham consequência na nossa sociedade.

A Igreja aconselha: O Equilíbrio está sempre no meio. No centro.

Viva bem a Quaresma. Viva bem a Campanha, que por sinal não se encerra depois de 40 dias. Ela vai até a terça feira de carnaval de 2010.

Dominus vobiscum

Publicado no Blog Dominus Vobiscum

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Quaresma, um tempo para refletir em família


Um tempo de renovação

Vamos viver um tempo profundo na espiritualidade familiar? Que cada membro de sua família viva intensamente este grande retiro espiritual que o tempo quaresmal nos oferece. Recordando o povo de Deus outrora no deserto, peregrinando por 40 anos... Lembrando-nos dos 40 dias de jejum de Jesus...

Mais uma vez vamos viver este tempo de conversão! O número quarenta é símbolo de uma geração, ou seja, evoca a história de cada um de nós, também nossa história de família. Quem durante a vida não experimenta situações de deserto? Quem não vive momentos de profunda solidão e sofrimento? Tudo isso faz parte de nossa peregrinação por aqui. Nesse tempo queremos nos aprofundar em nossa espiritualidade cristã e familiar.

Queremos colocar em Cristo nossas dores, nossas chagas, nossos sofrimentos, nossas desilusões. Ele saberá o que fazer com tudo, aliás, já assumiu para si, de antemão, todas essas situações. Desejamos viver esse tempo como resgate de esperança e, tomados pelas mãos do Senhor, queremos atravessar o "deserto", certos de que que uma terra nova acharemos, um novo momento celebraremos, o novo se dará. Num mundo cercado por violência e injustiças, no qual a insegurança passa a fazer parte da vida de todos, como nos recorda a Campanha da Fraternidade 2009, vamos tomar para nós os ideais de paz e justiça de nosso Mestre. Seguros em Suas mãos experimentaremos vida nova.

Como pais e filhos, como marido e mulher, como irmãos, vamos deixar a Liturgia da

Igreja iluminar nossa vida. Que em cada domingo da Quaresma consigamos dar os passos desejados. Vivenciaremos um encontro com Aquele que nos serve pelos Seus anjos (cf. Mc 1, 13 - primeiro domingo); contemplaremos o Senhor que se transfigura em luz e ilumina a caminhada (cf. Mc 9,2-3- segundo domingo); cresceremos no zelo pelo que é do Senhor, a começar por nossa história pessoal (cf. Jo 2,17 - terceiro domingo); olharemos para Aquele que tem o poder de nos curar definitivamente e amaremos não as trevas, mas sim a Luz (cf. Jo 3, 19 - quarto domingo). E com os discípulos de outrora exclamaremos: queremos ver Jesus! (cf. Jo 12, 21 - último domingo da Quaresma).

Que travessia abençoada será esta! Aproveitemos esse tempo de reconciliação. Na celebração da Páscoa, findando a travessia do deserto, chegaremos à margem onde está o Ressuscitado; e como dizia o saudoso D.Helder Câmara: faremos a experiência da "madrugada da Ressurreição, momento lindo de se viver!" Chegaremos ao nosso porto seguro e proclamaremos a quantos queiram nos ouvir: vale a pena atravessar o deserto, pois sabemos em quem colocamos nossas esperanças! E, se por ventura, encontrarmos alguém às margens do caminho, às vezes dentro de casa mesmo, faremos nossa parte.

Somos um convite vivo de Deus para que todos experimentem Vida Nova! Um santo tempo quaresmal para você e sua casa!

Pe. Rinaldo Roberto de Rezende
Pároco da Catedral São Dimas - S. José Campos-SP

Fonte: blog.cancaonova.com/saojosedoscampos

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

“Tu sabes que te amo!”

Papa João Paulo II aos jovens

“Antes que fosses formado no ventre de tua mãe, eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, eu te consagrei” (Jr 1, 5). A Palavra dirigida por Deus ao profeta Jeremias toca-nos pessoalmente. Ela evoca o desígnio que Deus tem sobre cada um de nós. Ele conhece-nos individualmente, porque desde a eternidade nos escolheu e amou, confiando a todos uma específica vocação dentro do plano geral da salvação.

Queridos jovens, não duvideis do amor de Deus por vós! Ele reserva-vos um lugar no seu coração e uma missão no mundo. A primeira reação pode ser o temor, a dúvida. São sentimentos que, antes de vós, o próprio Jeremias experimentou: “Ah! Senhor Javé, não sou um orador, porque sou ainda muito novo!” (Jr 1, 6). A tarefa parece imensa, porque assume as dimensões da sociedade e do mundo. Mas não esqueçais que, quando chama, o Senhor dá também a força e a graça necessárias para responder ao chamamento.

Não tenhais medo de assumir as vossas responsabilidades: a Igreja tem necessidade de vós, precisa do vosso empenho e da vossa generosidade; o Papa tem necessidade de vós e, no início deste novo milênio, pede-vos que leveis o Evangelho pelas estradas do mundo.

No Salmo Responsorial escutamos uma pergunta que no mundo poluído de hoje ressoa com uma particular atualidade: “Como poderá o jovem manter puro o seu coração?” (Sl 119/118,9). Escutamos também a resposta, simples e incisiva: “Guardando a Vossa palavra” (ibid.). Portanto, é preciso suplicar o gosto pela Palavra de Deus e a alegria de poder testemunhar algo que é maior do que nós: “Alegro-me em seguir os Vossos desígnios...” (ibid., v. 14).

A alegria nasce também da consciência de que inúmeras outras pessoas no mundo acolhem, como nós, as “ordens do Senhor” e as tornam substância da sua vida. Quanta riqueza na universalidade da Igreja, na sua “catolicidade”! Quanta diversidade segundo os países, os ritos, as espiritualidades, as associações, movimentos e comunidades, quanta beleza e, ao mesmo tempo, que profunda comunhão nos valores e adesão comuns à pessoa de Jesus, o Senhor!
Percebestes, vivendo e orando juntos, que a diversidade dos vossos modos de acolher e de exprimir a fé não vos separa uns dos outros nem vos põe em concorrência. Ela é apenas uma manifestação da riqueza daquele único e extraordinário dom que é a Revelação, do qual o mundo tanto precisa.

No Evangelho que há pouco escutamos, o Ressuscitado faz a Pedro a pergunta que determinará toda a sua existência: “Simão, filho de João, tu me amas?” (Jo 21,16). Jesus não lhe pergunta quais são os seus talentos, os seus dons, as suas competências. Nem sequer pergunta àquele que pouco antes o tinha traído, se de agora em diante lhe será fiel, se já não vai vacilar. Pergunta-lhe a única coisa que conta, a única que pode dar fundamento a um chamamento: tu me amas? Hoje, Cristo dirige a mesma pergunta a cada um de vós: tu me amas? Não vos pergunta se sabeis falar às multidões, se sabeis dirigir uma organização, se sabeis administrar um patrimônio.

Pede-vos que o ameis bem. O resto virá como conseqüência. Com efeito, caminhar nas pegadas de Jesus não se traduz imediatamente em coisas a fazer ou a dizer, mas antes de tudo no fato de o amar, de permanecer com Ele, de o acolher completamente na própria vida.

Hoje respondeis com sinceridade à pergunta de Jesus. Alguns poderão dizer com Pedro: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo!” (Jo 21,16). Outros dirão: “Senhor, tu sabes como eu desejaria amar-te bem, ensina-me a amar-te, para poder seguir-te”. O importante é permanecer na via justa, continuar o caminho sem perder de vista a meta, até ao dia em que podereis dizer com todo o coração: “Tu sabes que te amo!”.

Queridos jovens, amai Cristo e amai a Igreja! Amai Cristo como Ele vos ama. Amai a Igreja como Cristo a ama. E não esqueçais que o amor verdadeiro não põe condições, não calcula nem recrimina, mas simplesmente ama. Como podereis, de fato, ser responsáveis de uma herança que aceitais apenas em parte? Como participar na construção de algo que não se ama de todo o coração? A comunhão do corpo e do sangue do Senhor ajude cada um a crescer no amor por Jesus e pelo seu Corpo que é a Igreja.


Publicado no Portal da Comunidade Católica Shalom

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Esperança, o combustível da vida


Uma vida sem sabor é uma vida sem perspectivas

A esperança corresponde à aspiração de felicidade existente no coração de cada pessoa. Interessante observar que quem perde a esperança mais profunda perde o sentido de sua vida, e viver sem esperança não tem sentido. O próprio antônimo dessa palavra é DESESPERO, ou melhor, a perda quase que em estado definitivo da esperança. O desespero é capaz de corroer o coração.

A esperança é a vacina contra o desânimo, contra a possibilidade de invasão do egoísmo porque, apoiados nela, nos dedicamos à construção de um mundo melhor. A perda da esperança endurece nossos sentimentos, enfraquece nossos relacionamentos, deixa a vida cinza, faz a vida perder parte do seu sabor. No entanto, todos os dias, somos atingidos por inúmeras situações que podem nos desesperar.

A esperança é o combustível da vida, a forma de mantê-la viva é não prender os olhos nas tragédias; a cada desgraça que contemplamos corremos o risco de perder combustível. Existe na mitologia grega uma figura interessante chamada Fênix, que quando morria entrava em autocombustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas. Essa ave, o mais belo de todos os animais fabulosos, simbolizava a esperança e a continuidade da vida após a morte. Revestida de penas vermelhas e douradas, as cores do Sol nascente, possuía uma voz melodiosa que se tornava triste quando a morte se aproximava.

A impressão causada em outros animais – por sua beleza e tristeza – chegava a provocar a morte deles. Nossa vida passa por esse processo várias vezes num único dia, ou seja, sair das tragédias para contemplar a beleza que não morreu, a vida que existe ainda, como fazia essa ave mitológica. Alguns historiadores dizem que o que traria a Fênix de volta à vida seria somente o seu desejo de continuar viva, depois de completar quinhentos anos elas perdiam o desejo de viver e aí, se morressem, não mais reviviam. O desejo de continuar a viver era sua paixão pela beleza que é a vida.

Vida sem sabor é uma vida sem perspectivas; quem cansou de tentar, cansou de lutar, desistiu de tudo, uma vida que apenas espera o seu fim por pensar que nada que se faça pode mudar coisa alguma. Quem perdeu a capacidade de sonhar, o desejo de felicidade confundiu-se com a utopia. Felizmente não existe motivo para desanimar, lembrando as palavras de São Paulo: “A esperança não decepciona” (Rm 5,5). Não falamos aqui de qualquer esperança, mas da autêntica esperança, que não se apoia em ilusões, em falsas promessas, que não segue uma ilusão popular em que tudo se explica.

A esperança verdadeira, vinda de Deus, é uma atitude muito realista, que não tem medo de dar às situações seu verdadeiro nome e tem sempre Deus como fator principal. Não tem medo de rever as próprias posições e mudar o que deve ser mudado. À medida que perdemos ilusões e incompreensões temos o espaço real, no qual pode crescer a esperança, que nada mais é do que a certeza de que tudo pode ser melhor do que o que já vemos, e o desejo de caminhar na direção da vida, atraídos pela sua beleza, que no momento pode somente ser sonhada, mas é contemplada pelo coração.

O homem pode ser resistente às palavras, forte nas argumentações, mas não sobrevive sem esperança. Ninguém vive se não espera por algo bom que seja bem melhor do que o que já conhece, que já possui ou já experimentou. Deus alimenta nossa vida através da esperança!

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Padre Xavier


Publicado no Portal da Comunidade Católica Canção Nova

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Como curar o ressentimento?


A primeira coisa a fazer é avaliar os sentimentos estragados

A primeira coisa a fazer para curar um coração ressentido é um diagnóstico claro do problema que mais nos aflige. Como vamos tratar um problema se não conhecemos suas causas? Muitas vezes, para se chegar ao diagnóstico de alguma doença física gasta-se muito tempo, dinheiro, paciência, estudo e, acima de tudo, persistência e perseverança, tanto do médico como do paciente.

Para a cura do ressentimento, o procedimento é bastante parecido. A primeira coisa a fazer é avaliar os sentimentos estragados. Que sentimentos são esses? Que tipo de estrago têm? O que está causando o estrago? De onde provêm os sentimentos negativos? Desde quando estou me sentindo assim? Lembro-me de algum fato relacionado ao sentimento estragado? É um sentimento racional ou irracional, isto é, mais instintivo do que real? Será que não estou olhando para o problema com lentes de aumento? Ou o problema é realmente sério e perturbador? Desejo realmente a cura ou prefiro manter o sentimento estragado como estratégia para ataques ou defesas futuras?

Essas são algumas das perguntas as quais precisamos responder para tentar formular um diagnóstico mais próximo da realidade. E nunca podemos nos esquecer de que aqui estamos falando de problemas íntimos, de feridas interiores, de mágoas nem sempre muito conscientes. Mas, na medida do possível, é preciso diagnosticar para fazer o prognóstico correto, o tratamento adequado, eficiente e eficaz.

É bom lembrar que essas perguntas deverão ser aplicadas às situações que realmente necessitam ser trabalhadas. Não adianta nada a pessoa querer achar sentimentos estragados nas águas do passado. Aí o problema já precisa de outro tratamento.

Outra coisa importante a fazer é parar de alimentar os sentimentos negativos. Para se tornar ressentimento, esses sentimentos precisam de pensamentos negativos, palavras torpes, indelicadezas, hostilidades e outras atitudes semelhantes.

Considere ainda algumas coisas simples, mas fundamentais, para curar esse mal que tanto nos atrapalha: não queira achar que você está sempre certo e que o outro está sempre errado. Ninguém é tão perfeito nem tão imperfeito assim. Então, não é correto a pessoa ceder sempre (como se o outro nunca errasse). Isso provocaria outro problema sério: o sentimento de vítima, que acabaria gerando um complexo de inferioridade. É preciso descobrir a justa medida para se chegar à concessão mútua. Isso parece difícil, mas não é tão complicado assim. Basta termos critérios justos e estarmos desejosos de resolver o problema e não de complicá-lo ainda mais.

É preciso também chegar a uma hierarquia dos sentimentos. Existem coisas que precisam ser resolvidas com urgência. Tente descobrir quais os sentimentos estragados mais propensos a se tornarem ressentimento. Estes deverão ser os primeiros a ser atacados pela oração e pela ação de cura.

Se no seu grupo você já brigou com a maioria das pessoas, seja humilde e reconheça que o problema está com você. Ou será que você é o único certo e todos os outros estão errados? Aí somos como a mãe que voltou do desfile da escola de seu e disse ao marido: “Só o Juninho marchou direito”. Todos os outros colegas marcharam errado. E, coincidentemente, todos erraram ao mesmo tempo. Eles treinaram o erro. O Juninho se manteve firme e marchou direitinho. Só ele! Ora, não queira ser o Juninho, ou, pior ainda, a mãe do menino.

Se você sempre briga com a pessoa mais próxima (marido, esposa, filho, amigo, colega de trabalho) pelo mesmo motivo, repetidamente, é sinal de que o ressentimento já se instalou e que precisa ser tratado com urgência “urgentíssima”. Essa é uma ferida que precisa de tratamento adequado e eficiente.

A partir da constatação da ferida, passamos a aplicar sobre ela o remédio do perdão. Além do perdão e do amor incondicional, precisamos cultivar atitudes que nos levem a viver curados. É preciso ter coragem de ser diferente, e não viver como os pagãos, com o entendimento obscurecido (jeito simpático de chamar alguém de anta!) e o coração empedernido. Leia Efésios 4, 17-25.

Tempos aí alguns elementos muito práticos para uma vida restaurada. Como o próprio texto sugere, a cura do ressentimento é um processo longo, mas se não for iniciado nunca será concluído. Não podemos ter pressa, mas é preciso começar! O único jeito de perceber se estamos sendo curados ou não é pela qualidade de nossos relacionamentos. Na convivência, especialmente com aqueles que mais nos provocam, é que aprendemos a testar nosso coração. Na superação dos pequenos conflitos do dia a dia vamos nos preparando para as grandes batalhas de nossa história.

É fundamental perceber que uma das mais lindas obras que o Espírito Santo pode fazer em nossa vida tem a ver com a cura de nosso coração. Quando nos deixamos conduzir por Ele, vamos pouco a pouco matando as obras da resistência em nossa vida. Essas obras de resistência são exatamente as externalizações de um coração ressentido: inimizades, brigas, ciúmes, superstição, ódio, ambição, discórdias, partidos, inveja, bebedeiras, orgias e outras coisas semelhantes (cf. Gl 5,20).

Os frutos do Espírito, ou seja, aquilo que produzimos quando deixamos o Espírito conduzir nossa vida, são exatamente tudo aquilo a que aspiramos e o que conseguimos produzir quando experienciamos a graça da cura do ressentimento. O bonito é que a partir da experiência da cura os próprios frutos que essa cura produz serão usados para curas posteriores. E isso é fundamental, pois ninguém no mundo está para sempre imunizado contra o ressentimento. Qualquer novo relacionamento, qualquer novo contato com as pessoas com as quais nos relacionamos são sempre possibilidades para o ressentimento.

Padre Léo
(Trecho extraído do livro "A Cura do Ressentimento" do saudoso padre Léo - SCJ).

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A arte da convivência familiar!


Alguém único e irrepetível foi confiado a mim

Inspirado em algumas leituras e meditações feitas no dia a dia pastoral, passando por diversas comunidades, resolvi colocar em síntese algumas ideias, que vejo como importantes como reflexão para o enriquecimento da vida conjugal e familiar. Em primeiro lugar, é importante ter consciência de que o casamento é o encontro de duas pessoas que são diferentes, que se amam porque diferentes, e que permanecerão diferentes. Um se abre ao outro com suas diferenças, para enriquecer a vida e a história do outro.

Tem gente que passa a vida inteira querendo que o seu cônjuge seja como ele (a). Na convivência existem alguns pormenores que fazem a diferença. Existe um sinal inconfundível entre os que se amam de verdade: a dedicação de um ao outro. Alguém único e irrepetível foi confiado a mim. A esta pessoa devo dedicar minha vida, meus esforços, meu ser. Partilharemos um destino em comum, formaremos uma família, um tem de produzir vida no outro para que a plenitude da vida aconteça em seu lar. Existem atitudes que se tornam como que combustíveis do amor, alimentam-no e o fazem crescer. Estas se traduzem nas palavras, nos afetos e nas delicadezas. Um carinho a mais, uma atenção maior em determinados momentos, um gesto de delicadeza.

Tudo isso conta e muito! Já o inimigo principal do amor é o egoísmo. Uma pessoa centrada em si, individualista, que só pensa nos seus afazeres e satisfações, impossibilita a felicidade dos outros e, por tabela, se torna infeliz. Nossa vida é um chamado à comunhão e não ao isolamento. Fazer aos outros felizes é dever de todos.

Outras duas palavras que não poderão faltar na arte de amar são paciência e perdão!

A convivência humana exige isso.

Nós somos mistério para nós mesmos, como conhecer o outro sem restrições?

Surpreendemo-nos com nossos pensamentos e ações. Todos estamos em busca de um equilíbrio perfeito. Mas, isso não quer dizer que as imperfeições estejam superadas. A paciência é sinal de força e poder. Esperar diante de toda desesperança é sinal de sabedoria. Além disso, ser misericordioso é carregar em si o distintivo do discípulo de Cristo. Não perdoar é, como dizem por aí, "beber veneno achando que o outro é que vai morrer"! Como bem diz uma canção: "O lar é um lugar de se viver e dialogar".

Não tenho dúvida de que o casal é o lugar do Amor no mundo, e se é o lugar do Amor, é o lugar de Deus!

Precisamos honrar isso na prática de nossa vida, para a transformação de nossa história. Queridos casais, queridas famílias, estas palavras nascem do meu coração de pastor.

Desejo muito que o amor seja visto em cada lar de nossas paróquias.

Que Maria, Mãe do Divino Amor, interceda por nós!

Pe. Reinaldo R. Rezende é assessor diocesano da Pastoral Familiar e da Comissão Diocesana em Defesa da Vida.

Pe.Reinaldo Roberto de Rezende
Pároco da Catedral de São Dimas - S. José dos Campos - SP

Publicado no Portal da Comunidade Canção Nova

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O que é amar?


Há no ar uma 'caricatura' do amor

O namoro é um aprendizado do amor. Fomos criados para viver esse sentimento. Sem ele o homem e a mulher não podem ser felizes. Mas, afinal, o que é amar? O que leva muitos casamentos ao fracasso é a noção falsa que se tem do amor hoje. Há no ar uma “caricatura” do amor. Se eu lhe der uma nota de cem reais falsa, você não aceitará, pois ela não vale nada, e você ainda poderia ser incriminado por causa dela. Se você construir uma casa usando cimento falsificado, cuidado porque ela poderá desabar sobre a sua cabeça. Da mesma forma, se você levar para o casamento um amor falso, ele certamente desabará, pois o “cimento” da união é o amor. Para mostrar bem claro o que é amar, vamos iniciar mostrando o que não é amar. Amor não é egoísmo, isto é, preferência por mim, mas pelo outro. Se você come uma fruta com gosto, não pode dizer que a ama. Se você treme de paixão diante de uma menina e lhe diz : “eu te amo”, esteja certo de que você está mentindo, pois essa tremedeira é sinal de que você quer saciar o seu ego desejoso de prazer. Isso não é amor, é paixão carnal, é egoísmo. Se você está encantada com a beleza dele e se desdobra em declarar o seu amor por ele, saiba que isso também não é ainda amor, pois amor não é pura emoção ou sentimento.

Amar é muito mais do que isso, pois não é satisfazer a si mesmo, mas ao outro. Quando você disser a alguém “eu te amo”, esteja certo de que você não quer a sua própria satisfação ou felicidade, mas a do outro. Cuidado com as “caricaturas” do amor, porque estas são falsas e não podem fazer a felicidade do casal. Todo jovem tem sede de amar, mas, muitas vezes, o seu amor é mascarado e se apresenta falso e perigoso. Amar não é apoderar-se do outro para satisfazer-se; é o contrário, é dar-se ao outro para completá-lo. E para isso é preciso que você renuncie a si mesmo, esqueça de si mesmo. Você corre o risco de, insatisfeito, querer apaixonadamente agarrar aquilo que lhe falta; e isso não é amar. Assim o amor morre nas suas mãos. Você só começará a compreender o que é amar quando a sua vontade de fazer o bem ao outro for maior do que a sua necessidade de tomá-lo só para si, para se satisfazer.

As paixões sensíveis da adolescência não são o autêntico amor, mas a perturbação de um jovem que encontra diante de si os encantos e a novidade da masculinidade ou da feminilidade. É fácil entender que aqueles que quiserem construir um lar sobre esse chão de emoções estarão construindo uma casa sobre a areia. Muitos casamentos desabaram porque foram realizados “às cegas”, sem preparação para que houvesse harmonia, sem o aprendizado do amor. Amar é dar-se, ensina-nos Michel Quoist. É dar a si mesmo ao outro para completá-lo e construí-lo. Mas para que você possa verdadeiramente dar-se a alguém, você precisa primeiro “possuir-se”. Ninguém pode dar o que não possui. Se você não se possui, se não tem o domínio de si mesmo, como, então, você quer dar-se a alguém?

Se o seu coração bate acelerado diante de alguém que o atrai, isso é sensibilidade, não chame ainda de amor. Se você perdeu o controle e se entregou a ele, isso é fraqueza, não chame isso ainda de amor. Se você está encantada com a cultura dele, fascinada pela sua bela carreira e já não consegue mais ficar sem a conversa dele, isso é admiração, ainda não é amor. Mesmo que você esteja, até às lágrimas, diante de um fato chocante, isso é mais sensibilidade do que amor. Amar não é “ser fisgado” por alguém, “possuir” alguém ou ter afeição sensível por ele, ou mesmo render-se a alguém. Amar é, livre e conscientemente, dar-se a alguém para completá-lo e construí-lo. E isso é mais do que um impulso sensível do coração; é uma decisão da razão. Por isso, amar é um longo aprendizado, não é uma aventura como a maioria pensa. Não se aprende a amar trocando a cada dia de parceiro, mas aprendendo a respeitá-lo, tanto no corpo quanto na alma. Amar é uma decisão. E a decisão não é tomada apenas com o coração, empurrado pela sensibilidade. A decisão é tomada com a razão.

Quando amamos de verdade, nos tornamos livres de fato, pois o amor nos liberta de nós mesmos e das coisas que nos amarram.

Felipe Aquino
felipeaquino@cancaonova.com

Publicado no portal da Comunidade Católica Canção Nova